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sábado, 20 de dezembro de 2008

Troquei os pés pelas mãos... / por O.Heinze

...e me pus a passear
“plantando bananeira”
tendo de chão o ar
e de céu: flores rasteiras

indo feliz nessa situação
enquanto na contra mão
todo mundo achava que não

e mergulhado assim de cabeça
numa realização atemporal
meu eu criança brincava:
sou um super herói
empurrando no espaço o mundo;

meu eu adolescente viajava:
sou um revolucionário divertido
o mais livre vagabundo;

meu eu adulto se orgulhava:
minha loucura não foi em vão
tenho o mundo na palma da mão;

meu eu extraterreno sonhava:
preciso empurrar o mundo
daqui da maldade do mundo
para vida de amor profundo.

sexta-feira, 28 de novembro de 2008

Palhaço Pinóquio / por O.Heinze

Ha! Ha! Ha! Que piada!
Rio de mim mesmo.
Na praia sou torresmo
com cor de goiabada.

Chamar a atenção é good!
Meu ego quase derrete.
Cansei de puxar charrete
de ser chamado de grude.

Quem dá as cartas sou eu.
Agora dou preferência.
Nem tenho mais carência
pois mando no que é meu.

Ha! Ha! Ha! Que vida boa!
Quê? Que nariz vermelho?
Ora, vá se olhar no espelho!
Tua inveja ri atoa.

Desarticulei de tudo.
Vou viver de ar.
Montem o bilhar
achem o jogo de ludo.

Uhu! Estou tão contente.
Viva a liberdade!
Esqueci minha idade.
Solidão sai da frente!
Loja de sonhos / por O.Heinze

Roubei num tempo distante
uma faixa de praia e de mar
e guardei numa concha grande
de onde escuto o cantar

encantador: das sereias
libertador: das gaivotas
namorador: das baleias
das ondas: contra ilhotas.

E enquanto a maré vai fluindo
na praia de minhas lembranças
sinto um calor me cobrindo
da brisa salgada que dança.

Revejo um pesqueiro moroso
empurrado pela calma do acaso
num mar bem preguiçoso
de azuis aonde vou raso...

Reparo na praia tão cheia
crianças brincando, vendedores cantando
assobios e risos na areia
e minha fantasia namorando...

Eis que voltando para a realidade
essa fantasia continua fantasia
meia mentira, meia verdade
guardada nessa concha vazia...

sexta-feira, 14 de novembro de 2008

Abracem-me / por O.Heinze

Isso! Abracem-me...
Podem todas me abraçar
brandamente enlacem
meu corpo a se doar

Porque o abraçar é tudo
que há de encantador
num momento longo, mudo
na energia do amor...

Isso! Abracem-me...
ondas mornas do mar
ah se vocês falassem
porque vem me abraçar...

sexta-feira, 31 de outubro de 2008

Borboletas e prostitutas / por O.Heinze

Vivem soltas no parque
borboletas e prostitutas
no eterno embarque
diário de suas labutas...


Vestem-se parecidas
com cores vibrantes
fazendo-se queridas
pelos seus amantes...


Sempre perfumadas
alegres pela vida
borboletas na florada
prostitutas na avenida...


Ambas são caçadas
por seres solitários
homens nas calçadas
e meninos visionários...

Borboletas e prostitutas
consolam os tristonhos
umas vendendo frutas
outras compondo sonhos...

terça-feira, 14 de outubro de 2008

Adeus amiga... / por O.Heinze

Tínhamos mais ou menos a mesma idade
quando viestes morar no meu bairro.
Éramos crianças e você por ser menina
já era mais alta, esguia e atraente.
Todos os dias te via de frente de casa,
pois era onde te fixastes por uns 40 anos...

Crescestes, floristes, virastes uma rainha
com teus mais de dez metros de altura
e copa abundante onde pássaros faziam ninhos
e insetos cantavam e dançavam entusiasmados
enquanto fartavam-se de pólen nas flores amarelas.

No outono, tuas minúsculas folhas lançadas por ti
pareciam confetes comemorando a vida em festa
e tua vida era tanta que tuas bases agigantaram
rompendo a calçada, o meio-fio e o muro forte,
obrigando tua retirada em tempo breve.

Foi estranho ver homens com máquinas potentes
cortarem teus anti-braços, braços e pontas dos pés
e depois te arrancarem de teu lar antigo,
não sei se para a morte ou terras distantes...

É difícil olhar e não te achar mais onde moravas,
só encontrar uma rua e um céu cheios de vazio.
É triste ter perdido tua preciosa companhia,
ver no teu lugar um remendo de calçada...

segunda-feira, 6 de outubro de 2008

O Perfumador de Flores / por O.Heinze

Eis minha vida
que ninguém conhece;
minha eterna lida
suave parecendo prece...

Não tenho nome;
nem tenho cor;
não passo fome;
vivo de flor...

Sou um designado:
o Perfumador de Flores;
vou nos jardins, vasos,
buquês de amores...

Porém, camélias,
dálias e margaridas,
preferem ser sérias,
um tanto contidas...

Transfiro, sendo assim,
o perfume que delas era,
para a rosa e o jasmim
fazerem primavera...

Ao sentires fragrância
numa flor ou no ar,
saiba que minha ânsia
vive por perfumar...

terça-feira, 16 de setembro de 2008

Na banca de jornal / por O.Heinze

Olhando por toda banca
não me encontro em nada
nem na capa da revista santa
nem nas mais conceituadas
nem nas fofoqueiras ou pornôs
nem nas manchetes dos jornais
nem nos gibis internacionais
já dos tempos de meu avô.

Compro então uns dez pacotes
com três figurinhas em cada
encontrando reis do pagode
do funk etc. E eu? Nada!

Não me encontro na banca
nem dentro, nem na calçada
e uma pergunta tão franca
me faço na alma cansada:

Se a ilusão domina a tudo
onde a razão será usada?
Talvez na voz do mudo
na vida não enxergada...

domingo, 31 de agosto de 2008

Astronauta do chão / por O.Heinze

O caminho acabou
o lago começou
e eu que nem percebi
continuei em frente
andando sobre as águas
como se fosse chão
ou ponte de tábuas...

Se pareço astronauta
pelos parques da Terra
é culpa de meu amor
que desconhece gravidade
no espaço da felicidade...

Quem me assistiu assim
achou ser milagre
alguém tão comum
com poder nenhum
ser leve igual ar
apenas por amar...
Vaso da janela / por O.Heinze

No peitoril da janela
continua o mesmo vaso
dando linda e amarela
flor para o acaso.

Queria ser esse vaso
importante da janela
mas sou só poeta raso
não tendo flor singela.

Pois que guardo tanto amor
neste eu, vaso humano
e na rua passa a flor
nem sabendo quanto à amo...
Lábios verdes / por O.Heinze

Ela tinha os lábios verdes
não por batom ou frio
mas naturalmente verdes
verdes de esperança
verdes como botão de flor.

Certo dia seu desejo realizou:
o verde
ruborizou, a flor abriu
um perfume virgem fugiu
o beija-flor fartou-se de néctar
e ela passou dançando
de um sonho para outro...

domingo, 3 de agosto de 2008

Borboleta xadrez / por O.Heinze

Avistei certa vez
uma borboleta xadrez
subindo e descendo no ar
igual bandeira a voar
feliz como na vitória
com toda pompa e glória.

Ainda se bem me lembro
eu jogava em setembro
uma partida de xadrez
e foi isso que ela fez:

pousou no meu tabuleiro
como se fosse num jasmineiro
achando mesmo muito crível
ser aquilo sua flor compatível
e abrindo um sorriso brilhante
beijou e beijou a flor gigante...

sábado, 19 de julho de 2008

Eis a felicidade / por O.Heinze

Não é feriado nem domingo
e por esse asfalto cobalto
vou feliz feito um flamingo.
Sinto-me do chão andando alto
mais alto que o salto-alto
da nobre madame que vem vindo;
mais alto que um som contralto
de violino que vou ouvindo;
mais alto que o puro arauto
que enxerga um anjo lindo;
mais alto que o patinador
que rola, rala e sai sorrindo;
mais alto que o mergulhador
que vê o peixe-lua luzindo;
mais que o menino voador,
bicicleta e ET subindo...

sexta-feira, 11 de julho de 2008

FOME... OME... Ome... ome... / por O.Heinze

Temos fome por tudo:
nós, os outros;
etérea, material;
masoquista, salutar;
doce ou de sal;
por dentro, fora;
sentimentos lá atrás
e agora.

Loucamente
matamos por ela
e damos vida;
damos a vida;
danamos a vida
para tentar saciar
essa eterna ferida...

Fome: prisão!
Fazendo pesados
e esqueléticos;
lesados e atléticos.
Fazendo-nos animais;
pecadores normais;
pecadores capitais...

Sem ela seríamos anjos,
mesmo que sem asas.
Anjos negros, brancos,
vermelhos, pardos,
amarelos, invisíveis,
mas seríamos anjos,
anjos críveis...

quarta-feira, 25 de junho de 2008

Cisne negro / por O.Heinze

Em não podendo mais morar
nesta vestimenta humana
desejaria habitar no corpo
de um flutuante cisne negro,
para viver do silêncio
no lago tranqüilo espelhado;
na pacífica montanha adormecida;
no desprendido céu observador;
na mansuetude das aragens
vindas sopradas do norte,
tocando uma sinfonia morna,
inaudível para estes exteriores,
mas que faz valsar às almas
das tabuas, das águas na superfície,
e esta minha, agora mais branca
que a brancura da ternura,
inspirando-me, talvez, jamais acordar
de volta para a razão humana...

sábado, 14 de junho de 2008

Oitenta segundos... Uma eternidade... / por O.Heinze

No céu um sinaleiro
pairando igual colibri
amarelo... Vermelho!
Fazendo-me parar ali.

E no chão asfaltado
na faixa de pedestres
passando hipnotizados
lunáticos e terrestres...

Eu dentro do meu carro
flutuando no tempo
com meus olhos agarro
tudo que contemplo...

Medito ou sonho?
Tudo está tão bom...
E a paz que componho
é quebrada num fom!

O semáforo abrira
o colibri verdejou
o mundo me pedira
para voltar, então vou...

quinta-feira, 5 de junho de 2008

Ressurreição / por O.Heinze

As flores estampadas
neste jornal antigo
já estão desidratadas
pelo tempo de castigo.

Nem sei em pastel
qual cor mais triste
o cinza no céu
ou já no jornal
o amarelo que existe.

Eis que a chuva cresce.
Cubro-me com o jornal
que, penso, agradece
em absorver o temporal.

Quando acho um abrigo
e chacoalho o jornal
quem creria nisso???
Do jornal escorrido
caíram flores com viço...

sábado, 24 de maio de 2008

Eu: máquina do tempo / por O.Heinze

Hoje eu senti uma saudade
tão grande de mim
e sem perda de tempo
saí a me procurar...

E onde encontrar
alguém feito eu
que vivo a vagar
por tantos momentos?...

Me reencontrei no passado
nas mais diversas lembranças...
Me achei no futuro
em ilusões, fantasias, sonhos...

Mas aqui e agora
mal consigo me deter
e assim continuo solitário
pela falta de mim no presente...
Universo inverso / por O.Heinze

Fico imaginando se acaso
o universo cansado de viver
resolvesse desistir de si
e fosse se desfazendo...

Primeiramente apagando
o céu por detrás do sol,
depois apagando o sol
por detrás do mar
e aí o mar, as gaivotas,
o chão, o ar e o tempo;
deixando no vazio somente eu...

Então, havendo mais nada fora,
eu buscaria dentro de mim
no meu universo,
aquilo que possuísse por lá
para viver...

quarta-feira, 14 de maio de 2008

O circo / por O.heinze

No centro da cidade,
na rua bulevar,
tem tanta gente,
tantas caras, disfarces,
tipos e modismo,
coisas e esquisitices,
acessórios e bugigangas,
que cheguei a dar risadas!
Eu lá naquele meio
desviando, esgueirando,
um verdadeiro malabarismo
para chegar aonde eu queria.
Só então me dei conta;
aquilo tudo é um circo!
Sim... Ele ainda existe!
Não tem mais a lona,
mastros e carroças.
Tudo está ao ar livre,
todos os integrantes;
mestre-de-cerimônias,
ilusionistas, pombas,
“leões”, mulher-barbada,
anão, gigante,
pipoqueiros, “cavalos” etc.
E eu também estava lá;
o palhaço!

segunda-feira, 12 de maio de 2008

Louco? Ora! / por O.Heinze

Enquanto todos corriam de ti
eu te recebia de braços abertos.
Nem sabiam quais eram mais vazias:
minhas lágrimas a descoberto
ou tuas carícias frias.

Depois que fostes embora
todos os seres voltaram
para me olharem com demora
pois só eu te recebia. Só eu!
Agora me acham louco? Ora!...

Sempre estarei aqui, sempre...
De coração aberto esperando por ti
oh chuva bendita que surpreende
lavando-me mais a alma que eu aqui
e brotando em mim outras sementes...

sábado, 3 de maio de 2008

Com o dia ainda nascendo... / por O.Heinze

Penduro frutas diversas
pelas árvores do quintal
e encantadoramente
atraio a passarada
de todos os recantos
da cidade silenciosa
com o dia ainda nascendo...

Vivo desses pássaros
sem donos nem destinos;
de seus primeiros cantos
entoados no novo dia;
vivo das suas asas livres
onde meus olhos voam...

Mas principalmente vivo
do que nem é mais só deles
pois agora é também de mim:
a alegria de cantar
sem saber ao certo porque;
cantar talvez por ter despertado
também na minha alma...

quinta-feira, 24 de abril de 2008

A praça / por O.Heinze

Passei hoje
pela “nossa“ praça
onde namorávamos
à 21 anos atrás...

Ela mudou tanto
na aparência...
Os bancos são outros;
as pedras nas calçadas;
os jardins...

Mas as árvores
e a energia na atmosfera...
Ah... essas são as mesmas
e sorriram para mim
me reconhecendo...

Talvez não por fora
mas por dentro
onde minha idade
e meu amor
em nada mudaram...

quarta-feira, 23 de abril de 2008

Céu e margaridas / por O.Heinze

À minha frente o céu azulado
e um mar de margaridas
e também atrás, dos lados...

Nem sei o que seria maior:
o céu ou o campo florido
que se perdem no horizonte?...

Para tentar sentir
deito-me entre as flores
e o céu fica infinito sobre mim
e as margaridas em toda volta
do tamanho da primavera...

Então descubro que o maior
dentre o campo de flores
e o céu azulado
é o espírito da poesia...

domingo, 20 de abril de 2008

As flores falam... / por O.Heinze

Uma planta
enquanto apaixonada
flori...
Mas eu aqui
cheio de amores
nem produzo flores
para externar minha paixão.
No máximo mantenho
este belo botão
chamado coração...
Posso tentar
com mil palavras
quase expressar o que sinto
mas estas plantas mudas
com suas flores
exprimem com exatidão
o que lhes vão
em seus botões...
Nem te vi / por O.Heinze

Pássaros das manhãs,
tardes e noites.
Para que lugares vão
após tuas existências?
Vejo-os em bandos
e todos os dias,
mas raramente encontro
um dos vossos
largado e sem vida.
Penso que sois
tão benditos
pela inocência
de vossa natureza
que jamais morram;
apenas somem daqui...
Os que são encontrados
talvez quisessem não partir...

sexta-feira, 4 de abril de 2008

Oi! / por O.Heinze

E lá vou eu
feliz da vida
andando por calçadas
de ruas e avenidas.

Passo por tanta gente
que só olha pra frente.
Nesse mundo moderno
ninguém se cumprimenta
ninguém se atenta
num aperto de mão;
num abraço; num: como vão?
Num olhar; num aceno;
num: oi! Apenas um...

Mas um besouro pequeno
passa e fala: -Zuummm!!!
O pássaro no alto ali
que mal me conhece grita:
-Bem te vi!!!
E os cães atrás dos portões
me latem a plenos pulmões...

Ai... Ai... Que contra-senso;
Paro no ponto e penso...
Quanto mais pessoas juntamos
mais distantes ficamos...
10X4 / por O.Heinze

Meu quintal mede
dez por quatro metros
e essa sede
entre concretos
é minha selva
com árvores altas
plantas e relva
e nada me falta...

E minha cidade
tem tanto cimento
muros com grades
mil pavimentos
postes, fumaça
congestionamento
gente em massa
som barulhento...

Mas milagrosamente
nesta minha mata
vêm seguidamente
de cor prata
vários sanhaços
caçar com seus bicos
as flores em maços
do meu pé-de-pito...

terça-feira, 1 de abril de 2008

Flores e flores / por O.Heinze

Essas flores do mato
inebriam meu olfato.
E que coisa!
Não custam nada
nem pra mariposa
nem pra passarada
nem pra minha esposa
que encantada
nem ousa
pedir-me um punhado
pro ambiente de casa
ficar perfumado...
É... Lembrei de flores
no comércio vendidas
que não tem cheiro de flores
nem conseguem ser floridas...

terça-feira, 25 de março de 2008

Arte apolítica / Crônica / por O.Heinze

Jamais pensei que mencionaria este termo: arte apolítica.
Considero que a arte seja um estado materializado da alma. Sendo assim ela é divinal, pura, incapaz de misturar-se com padrões densos de idéias políticas e materialistas. A obra artística tem o propósito simples e ingênuo de fazer o seu observador ausentar-se desta dimensão “aliviando-se” daqui. Depois de alguns momentos em contato com uma forma artística o espectador volta para sua rotina, modificado em suas energias, graças a uma impressão nova na sua individualidade, um tipo de esperança que lhe sugere um outro conceito de viver...
Infelizmente na atual classificação de certas exposições de artes plásticas (para não dizer todas), o nome do artista tem mais arte e poder que sua própria obra. Isso causa um empecilho invisível, mas intransponível para autores pouco difundidos que não conseguem alcançar patamares mais altos, afinal, esses degraus sempre já estão previamente ocupados.
Que não se envergonhem os artistas humildes por não subirem um só degrau para sair do anonimato, pois a verdadeira arte, a arte sem donos e apolítica é desprovida de créditos na terra, mas é infinitamente gratificante na essência do seu artista.

sábado, 22 de março de 2008

Ah... Tua alma / por O.Heinze

Pensas que podes
esconder de mim tua alma?
Ora! Posso pressenti-la;
quando na tua alegria
esqueces do mundo a rodar...
rodar livremente a beira-mar;
e ainda posso pressenti-la
quando improvisas de repente
cantarolando contente
repertórios de teu âmago.
E quer saber?...
Já conheço tua alma a fundo
quando no teu olhar profundo
mergulho com minha inocência
saindo deste focado mundo
para tua transparência...

quinta-feira, 13 de março de 2008

Latas / por O.Heinze

Já estamos dominados
pela espécie máquina.
Somos sardinhas em lata
nas lotações centrais.
Somos carros em lata
nos congestionamentos brutais...
Somos a própria lata
disputando uma prateleira.
Somos quem vive e mata
por controle remoto.
Somos lata que acata
de uma voz da foto
a ordem do celular
da lata do outro lugar...

segunda-feira, 10 de março de 2008

Janela da manhã / por O.Heinze

Manhã de bom tempo.
Eu escancaro a janela
e um céu muito azul
mergulha na minha alma.
Um pássaro bem educado grita:
-Bem... Te vi!
O sol nem pede licença
e adentra minha casa.
Que bom! Não estou mais só.
Mas, queria ter namoradas,
feito aquele beija-flor ali.
Ah as namoradas...
O dia pode ter tudo de bom;
festa, música, confeito,
mas, sem elas, as namoradas,
o dia não é perfeito!
A borboleta / por O.Heinze

Quinta-feira de sol.
Eu aqui pelas calçadas
deste centro de bairro
e suas lojas socadas.
É um tal de vai e vem,
carros, ônibus, gente;
parece tudo inconseqüente
(mais fácil entrar num trem!)
E entre toda esta bagunça,
solta no meio do cinza,
uma borboleta pinta
o ar com quatro cores,
fazendo o mundo alegre,
surrealismo tal, parece-me febre,
ilusão da visão e sensores.
Fico pensando comigo;
teria ela um amigo?
E afinal quem está
no lugar errado?
Essa borboleta aí sozinha
ou a cidade todinha?

sábado, 8 de março de 2008

Águas passadas / por O.Heinze

Chorei duas águas
leves de alegrias
ou pesadas de mágoas.
Mas águas passadas
não movem moinhos
e nem tenho cata-ventos
nos meus caminhos.
Depois da calmaria
ou da tormenta
um novo ânimo
meu eu intenta...
Sou inventor da vida
e minha vida
é minha amiga preferida.
A dama / por O.Heinze

Noite azul, calma,
morna no corpo,na alma.
Sinto-me embalado
nos braços da ternura,
Sonhador apaixonado
enlevado nas alturas.
Tudo pela presença
de uma doce dama
que sem pedir licença
me envolve, me ama.
Como não querê-la
dentro e fora de mim?
Respira-la e tê-la
Quase uma flor de jasmim?
Oh dama-da-noite*, do ar,
por que não sais da planta
e pedes para Deus te encarnar?
E feita mulher te levantas,
para me namorar, seduzir
e fazer meu mundo florir?

*Dama-da-noite: Planta de nome científico Cestrum.
Também conhecida como: Coerana, anilão,
jasmim verde, fruta de pombo, maria preta, pimenteira.

sexta-feira, 7 de março de 2008

Cores viageiras / por O.Heinze

Até que não me admirei
quando minhas vestes coloridas
ficaram desbotadas
e depois alvíssimas
enquanto batiam na máquina
e quando abri a lavadora
e pequenos seres coloridos
saíram voando felizes
com as cores das minhas roupas
sabe-se lá para onde?!
O que estranhei mesmo
foi ter que vestir branco
sem ser médico ou homem santo
num tempo tão conturbado
com o ar enfumaçado...

quinta-feira, 6 de março de 2008

Anjo Jasmim / por O.Heinze

Ah os jasmins!
Os jasmins não são flores
são como moléculas
saídas de mim
na forma de mil amores
voando por aí, largadas,
pousando aonde fores
oh almas apaixonadas
carentes de flores...

E este sentimento que lanço inteiro
é ainda o que chegou comigo
lá do céu, de um canteiro
aonde vivo e me abrigo.

Tomai todos meus jasmins
guardai-os em vossos corações
e amai-vos, sejam afins
de amores, não de paixões...
Cavalo de ferro / por O.Heinze

Lá longe vem o trem
parecendo monstro medonho
saído de um mal sonho
das brumas mais além.

Soltando uivos, berros
faiscando do alto ao chão
parecendo um longo dragão
ou um cavalo de ferro.

Mantendo o compasso
com dezenas de patas
torcendo, rangendo latas
com seu trotar de aço.

Por dentro levando socadas
mil células diferentes
com formato de gente
um tanto inconformadas.

Eis que então ousam queimá-lo
tentando dele se desfazer
mas ele resiste sem derreter
restando então apedrejá-lo.

Quando ele cansa e pára
muita gente debanda
mas uma outra banda
para si ele separa.

E assim ele vai vivendo
engolindo pessoas
más, medianas, boas
que lhe vão mantendo...
E por falar em solidão... / por O.Heinze

Noite sem lua.
Nada é claro.
Paro!
Olho a rua.
Uma garoa flutua.
Ascendo uma vela
e pela janela
olho a rua.
A garoa continua...
Sento na poltrona.
Ninguém telefona.
Que paz máxima
esta música clássica...
Isto sim que é vida!
A isto bendigo!
Solidão seria
se eu não estivesse comigo...
Vôo dirigível / por O.Heinze

Voando alto no meu dirigível
é divertido; incrível!
O que era longe está perto:
as nuvens, o.v.n.is, teco-tecos;
a “turma” de gansos ou marrecos;
as pontas dos arranha-céus;
as renas do Papai Noel???
O que era perto ficou longe,
mas ainda dá para ver as formigas:
têm umas de gravatas, chiques;
outras parecendo ter chiliques;
várias andando de bicicletas,
skates ou pernas-de-pau.
São tantas formigas... Uau!!!
De todos tamanhos e cores;
até passando protetores...
Agora já sobrevôo o fim do oceano
e... Surpresa!!! Estou abismado...
Não é que o mundo é quadrado???
Mais que o sim; mais que o não / por O.Heinze

Quando o bem-te-vi me viu
eu já estava longe
correndo atrás dos meus sonhos...
E era tanto que eu sonhava
que meus pés nem tocavam o chão.
Então fui subindo... subindo...
Voei mais alto que o bem-te-vi;
que o falcão; que a águia;
que o vulcão; que o meteoro;
mais que o sim; que o não;
mais que a ilusão desta realidade...
Até que finalmente tive a certeza
de que o aqui não existia
que aqui era só um sonho curto
da verdadeira vida esquecida...
Borboletas são flores aladas” por / O.Heinze

Borboletas são flores aladas
que voam animadas
à procura de amores
pousam nas flores preferidas
com elas parecidas
provando seus sabores
depois deixam um recado:
“todas as flores são sem pecado,
podem voar se quiserem”
e num ato abençoado
a flor crente rompe o cabo
pois voar suas pétalas querem
e num momento de fulgor
metamorfose furta-cor
soergue-se nos ares
e as outras flores incrédulas
vão perdendo todas as pétalas
virando sementes elementares.
“Corpo e alma” por: O.Heinze.

Enquanto meu corpo externo
mostra toda sua aparência
como se estivesse numa vitrine
feito um manequim de loja
para ser olhado ou não
para ser comprado ou ganhado
mantenho minha alma guardada
como se estivesse em um cabide
dependurada dentro do armário
à espera de uma pessoa carente
que realmente dela precise
para agasalhar sua fria solidão
e quando esta pessoa
não olhar para meu manequim
mas bater palmas no endereço
do meu coração de amor
doarei minha alma sem uso
para que este alguém
possa vestir ao meu manequim
e ter-me de corpo e alma.