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domingo, 26 de junho de 2011

Apples / por O.Heinze

Sabiás adoram mamões
bem-te-vis, bananas
sanhaços, laranjas
e eu maçãs.
Essas maduras do teu rosto
formando água no meu gosto
mas que eu não posso beliscar
tampouco experimentar.
Não posso estar não
voando em teu coração.
Sou extinto passarinho;
apenas um teu vizinho.
Não de quintal ou de rua;
de fitar a mesma lua;
nem sequer de quarteirão.
Sou vizinho de dimensão...

Flor de trepadeira que cultivo no quintal e na calçada da rua chamada: GLÓRIA DA MANHÃ

domingo, 19 de junho de 2011

O.Heinze no dia do voo na baixada santista.


O céu sob nossos pés / por O.Heinze

Seguimos em paz por estrada livre, própria de um dia de domingo sem feriado prolongado. Após uns 65 quilómetros chegamos ao litoral e estamos na base do morro do voo livre. Rumamos então para seu topo, por uma ruazinha que só passa um carro por vez. Às suas margens casas humildes e pessoas aparentemente desocupadas que nos olham sem muita surpresa, afinal, ainda somos apenas humanos com almas de humanos. Atingimos o cume do morro, estacionamos o carro e seguimos até o mirante a 175 metros de altura do nível do mar tranquilo, onde escorrem ondas em desenhos brancos. Navios estão colados nele, assim como ilhas e montanhas ao fundo. Mais na beirada há barcos menores e surfistas. Nas areias da praia pessoas, e também nos calçadões. Muitos prédios um ao lado do outro acompanham toda avenida principal que se perde de vista no horizonte. Toda essa paisagem parece ambiente de brinquedos que podemos manipular com as mãos ou pinças, pela impressão que a distância proporciona. Um céu azul de encher os olhos empresta seu espaço para nuvens de algodões gigantes, pássaros de grande sorte, o sol pleno e a mais pura aragem passearem a vontade. Os primeiros parapentes começam a ser montados no campo verde de decolagem, inflando-se e subindo no ar, fazendo nossos corações vibrarem diferentes. Voar pela primeira vez deve de ser emoção inenarrável e é isto que viemos fazer, voar a 200 metros de altura do solo. Para tanto, é preciso esquecer que se é humano; acreditar que quando seus pés não tem mais chão você pode planar; ser mais um pássaro; irmão do ar; morador do céu! Estamos voando e voar é ser anjo sem documento, moradia, nacionalidade, cor, idade, idealismo, nada que é deste mundo de gente. Os ventos nos sopram segredos que o mar lhes confiou; a mata é uma imensa colcha verdejante cobrindo a encosta silenciosa que parece adormecida. Vinte minutos de voo passam num piscar de olhos. Já estamos pousando na praia e é estranho: sentimo-nos diferente dos humanos que nos olham em redor. Não que eles mudaram em algo, mas nós que voamos ficamos noutra realidade que não a deles e queremos como que rapidamente voltar para o céu em busca da liberdade de lá. Voltamos de carona para o alto do morro. Agora por onde passamos a comunidade nos olha diferente, pois vamos com corpos de humanos e almas de pássaros. Pegamos nosso carro e descemos rumo à praia. Na base do morro estacionamos, trocamos nossos tênis por chinelos e saímos passeando pela orla, àquela mesma que nos parecia brinquedoteca lá do alto. Enquanto molhamos nossas pernas no raso do mar e respiramos a maresia do ar, olhamos para o pico do morro. Lá vemos pássaros e parapentes altos misturando-se no espaço aberto. Sentimos novamente a sensação do voo que palavra alguma definiria com precisão. Algo que os pássaros com almas de pássaros explicam com naturalidade quando contam ao cantar.