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domingo, 24 de agosto de 2014

Pássaro aleijão / por O.Heinze

O pássaro aleijão
não gostava de chão
e amava tanto voar
que uma terceira asa
lhe nasceu do nada, então
foi tanto que ele voou
que passou a temer o não!
Não sabendo nem mais pousar
seguiu e seguiu a planar
vivendo de lembranças e solidão.

Como um seu lado voava mais forte
passou a prosseguir em círculos
perdeu o rumo do norte
e também todos seus vínculos.

Certo dia ficou tão exausto
adormeceu num bolsão quente
de ar que seguia em seu encalço
lhe deitando numa nuvem tamanha
que o largou sobre a montanha.

Quando ele acordou e sentiu
novamente a firmeza do chão
mais que depressa decidiu:
cuidaria da sua razão;
tiraria a terceira asa;
não despencaria nas sarjetas;
voltaria para sua casa;
daria adeus às muletas.

segunda-feira, 18 de agosto de 2014

Poesia de um tolo / por O.Heinze

Mas que bobagem é esta
de me entregar à poesia.
Mas também, nada me resta
nessa vida sem alegria.

Ao menos ao permitir
que a poesia me abrace
sinto meu dia fluir
e um amor em face...

Faz eu bem acreditar
que ainda sou gente
que posso sempre amar
que mereço ir em frente...

Não ganho com poesia
ouro, prata, dinheiro
mas uma rica alegria
me toma por inteiro.

E não é que de repente
descubro na poesia
um mundo inconsequente
na mais pura fantasia.

Que não me leva a nada
pois é apenas ficção
só fazendo dar risada
e abrir o coração.

E até ver essa vida
de quase infelicidade
como vida colorida
em um mundo de verdade.

segunda-feira, 11 de agosto de 2014

Deusa Apaziguadora / por O.Heinze

Em contraste com a imensidão
de um céu nu de inverno
uma minúscula borboleta amarela
risca o azul abandonado
ora indo para cima, ora para o lado
clara como a vontade da paz
parece querer escrever algo
do tipo faz de conta ou não faz?
Own vontade de poder ser
toda liberdade dessa pequenina
feito um sonho que ilumina
refazendo o dia nascer.
E mudando de direção
voou e voou para a cidade
na mão e na contramão
da energia da felicidade.
Quê quereria me dizer
com funesta atitude
pois poderia até morrer
voando na baixa altitude.
Então, em primeiro lugar
pousou na mão do mendigo
depois numa mulher a chorar
e aí na criança em castigo.
Após, na arma do ladrão
na condenada tão triste
na miséria do largado cão
na mão com o dedo em riste.
No colo do abandonado
no cassetete do soldado
na dor do injustiçado
na solidão do mal amado.
Na criança esfomeada
na mulher violentada
na idosa maltratada
na deficiente ignorada.
No homem estressado
no menino sem memória
no simplório enganado
no mundo sem história.
Então pude bem entender
o que a borboleta veio ensinar
vivemos pesados a sofrer
e sem paz não podemos voar.

sábado, 2 de agosto de 2014

As lágrimas falam / por O.Heinze

Não tendo por que chorar
chorei para o amanhecer
talvez tentando dizer
do poder ser, poder estar...

Feliz, pois em mim havia
lágrimas de pura prata
escorrendo em cascata
pousando numa teia fria.

Tão só feito uma aranha
na teia da bendita vida
fios da alma incontida
onde a emoção me ganha.

É preciso saber morrer
para nascer de verdade
e viver com liberdade
para morrer de prazer.

Por isto choro assim
pois sou tudo e nada
sou essa teia molhada
sou criação sem fim...