Translate

sexta-feira, 28 de dezembro de 2012


O Viajante da Mala Invisível. Por / O.Heinze

Essa capa de livro é uma pintura minha a óleo, 50x70, de julho de 2011 chamada: “O Viajante da Mala Invisível”. A arte final é de meu filho Rafael A. Heinze. O livro é de minha autoria e ainda não foi editado, mas já está registrado na Biblioteca Nacional. É um romance com 160 páginas sendo que 105 poemas interagem com a história. O conteúdo da mesma tem caráter fantasioso, porém, com um bom tanto da realidade atual, do passado ou no futuro, pois ele é atemporal. Isso dá uma dinâmica interessante ao leitor, que inclusive é reportado ao livro pelos personagens principais, pois volta e meia pedem a sua opinião. Quase todos os assuntos são abordados nesse livro, como, por exemplo: Infância, estudo, trabalho, meio ambiente, música, arte, amor, paixão, sexualidade, saúde, sonhos, medos, universo, etc.
Ainda não consegui uma editora para publicá-lo. Talvez eu venha a lançá-lo virtualmente.

Estou postando aqui o primeiro capítulo, espero que goste!




O viajante da mala invisível
(e você)


Capítulo I
NÓS E A MENTE

      Ah! Que bom que você chegou!
          Eu estava mesmo lhe aguardando no tempo indeterminado do universo.
          Você, assim como eu, não sente volta e meia vontade de saber o que se vai à mente de outras pessoas? Pois bem! A partir de agora você poderá viajar na mente de alguém que acredita na Poesia como Fonte de Vida.
          Não pense que este é um livro comum, não! Ela trata de poesia transformada em letras, porém a poesia não pode ser detida de forma alguma, ela sempre foi e sempre será livre. O que está nessas linhas são impressões da poesia que captei e tentei materializar o melhor possível. Mas a poesia em si é uma energia mágica, sonhadora, que tem inteligência própria. Então não fique admirado se volta e meia enquanto estiver viajando comigo dentro deste livro, tiver visões ou sonhos fantásticos.
          Por outro lado, de alguma forma, eu também entrarei na tua mente e esse é o poder magnânimo da poesia: Criar a união de várias mentes puras, formando assim uma Egrégora no UNIVERSO DO BEM.
          Não conte mais o tempo, aliás, não conte com o tempo. Aqui é atemporal, a mente é atemporal. Viveremos numa energia indomável.
          Nosso meio de locomoção é o acaso. Então, quando quiser sair de onde estiver, feche os olhos e deixe se levar para fora daqui por janelas, apenas elas. As portas são sinistras demais para a poesia passar inteira e isso pode não ser bom. É uma sensação estranha misturar realidade material com realidade poética, elas não podem se afinizar, pois, a primeira carrega ego controlador, e a outra, desprendimento total.
          Certo dia mergulhei dentro de mim e uma voz me perguntava seguidamente: Portas ou janelas? Escolha!... Portas ou janelas? Escolha!... Portas ou janelas... Então, sem eu precisar na resposta, fui assistindo as palavras passando pacificamente num céu azul dizendo assim...


Portas ou janelas? Escolha!

Já destranquei tantas portas
e cheguei a nenhum lugar
já as janelas vivas ou mortas
passei sem chaves usar.

Portas, como palavras faladas
usam de um canal passador
mas janelas são encantadas
igual poesia do amor.

Feliz da casa com uma porta
fechada para a arrogância
e mil janelas, mesmo que tortas
escancaradas de infância.

Meu travesseiro me contou
que sonhei com uma janela
e falei que ela falou
que vida só vive por ela...

         
          Parece que o tempo está bom lá fora!
          Até que minha noite foi boa. Tenho a sensação de ter sonhado com algo bom. Será que travesseiros falam mesmo?  Por que sempre que voltamos de uma noite de sono temos a impressão de que voamos por algum lugar?! Nem sei qual dia é hoje, nem da semana, nem do mês. Os pássaros já cantam no jardim.
          Obrigado universo! Sinto-me renovado. Acho que meu estado interno veste-se de adolescência. Tenho ânsia por viver um grande amor. Como estará o dia hoje para além desta...


Janela da manhã

Manhã de bom tempo.
Eu escancaro a janela
e um céu muito azul
mergulha na minha alma.
Um pássaro bem educado grita:
-Bem... Te vi!
O sol nem pede licença
e adentra minha casa.
Que bom! Não estou mais só.
Mas, queria ter namoradas,
feito aquele beija-flor ali.
Ah as namoradas...
O dia pode ter tudo de bom;
festa, música, confeito,
mas, sem elas, as namoradas,
o dia não é perfeito!
 

sábado, 22 de dezembro de 2012

O fim do mundo / por O.Heinze

Falou-se tanto do mundo acabar
mas ora, o mundo já acabou faz tempo.
Estamos em milhões de pedaços
e como numa grande explosão
fomos lançados para todos os lados.
Somos um grande quebra-cabeça
que não se reúne, não se unifica jamais,
seja de continentes, seja de gentes.
Vivemos no mesmo planeta,
mas distantes uns dos outros.
Tratamo-nos de forma estranha
parecendo mais alienígenas.
Quando chegou a internet
pensamos que era a salvação.
Viva a globalização,
coisa e tal, mas qual...
Estamos cada dia mais
longe do amor, do fraternal,
enquanto um tal de medo
mata cada mundo individual.
Temos medo do mundo, e o jeito é...
ir matando-o aos poucos,
pois nosso relação com o meio ambiente
é o fim do mundo.
Nossas leis são o fim do mundo.
Nossa educação é o fim do mundo.
Nossa política é o fim do mundo.
Nossas relações socioeconômicas
são o fim do mundo.
O et cetera é o fim do mundo!
Então, em meio a esse caos
que o mundo vive,
poderíamos dizer que de certa forma
seria talvez uma benção
se o mundo realmente acabasse.

sábado, 15 de dezembro de 2012

Quereria que chovesse amor


















Fotografia: O.Heinze


Quereria que chovesse amor / por O.Heinze

Vivo uma solidão doída.
Vasculho em minha escuridão
uma urgência de amor.
Fora de mim há luz
num dia silencioso.
Uma orquestra de folhas
das árvores a bailar
toca uma sinfonia calma
prenunciando o chover.
Quereria que chovesse amor.
O amor deveria ser fácil
feito assim chupar bala
enquanto se sonha
com o olhar perdido no bem.
Minha vida está passando.
Quanto mais ela passa
mais e mais eu amo
mais quero ser amado.
Quando eu era bem jovem
imaginava que os idosos
não tinham tempo para amar
pois usavam todo seu tempo
lembrando suas aventuras de amor.
Espero nunca deixar de amar
porque viver sem amor é morrer.
Pobre morte triste e obscura
és assim tão somente porque
do amor não conheces a alvura.





sábado, 8 de dezembro de 2012

Bonecos sem corda


















O.Heinze de costas


Bonecos sem corda / por O.Heinze

Não te preocupes
por não me entenderdes,
pois que eu também
ainda não me sei.
Se esperardes que eu sejas
mais um nessa humanidade,
igual, despersonalizado,
esqueças! Esqueças!
Sabes, pássaro da gaiola,
quantas gerações tuas
já nasceram aí dentro?
Então, definitivamente
não serei outra Barbie;
boneco de corda;
caixinha de música;
figurinha repetida;
fomentador de religiões;
sócio do sistema;
ladrão de sonhos...
Sou apenas pássaro.
E desde o tempo em que
nem existiam gaiolas.

sábado, 1 de dezembro de 2012

Roseira sem rosa














Fotografia: O.Heinze



Roseira sem rosa / por O.Heinze

A roseira não quis florir
deitou seu botão para si
matando-o nos próprios espinhos
não se permitindo sorrir.
E eu continuei flutuando
ao seu redor, sonhando,
sonhando com o fim do pesadelo.
Tantas vezes seu botão quis abrir,
sentir liberdade, vida, prazer,
mas a roseira só se fez fugir
da realidade para o falso viver.
Cansado de voar no nada
saí por aí feito livre colibri.
Conheci outras Rosas floridas,
Marias-sem-vergonhas, Margaridas,
e tantas outras flores sem medo
de mostrar do botão o segredo.
Pesado de néctar voltei
próximo da tal roseira triste
e ao meu coração perguntei:
será que ela ainda existe?...

sábado, 24 de novembro de 2012

Encontro com a Maria-sem-vergonha


 fotografia: O.Heinze




Encontro com a Maria-sem-vergonha / por O.Heinze

Fui todo envergonhado
falar com a Maria-sem-vergonha.

Ela não me respondeu,
não me perfumou,
sequer me olhou,
mas me encheu de cores.

Tantas cores misturadas
que me fez sentir num carnaval,
apesar de ainda não ser nem natal.

Era tamanha sua beleza
ali largada ao chão,
que tive vontade de deitar sobre ela,
me arrastar de amor por ela,
mas pensei em suas rendas perfeitas,
e não quis desfazer tanta delicadeza.

Toda aquela beleza assim
sem poder abraçar, roubar,
me trouxe insegurança de menino,
chorei na volta do caminho,
regando o asfalto cinza e morto.

sábado, 17 de novembro de 2012

Sou um solitário / por O.Heinze

Sou um solitário.
Louco? Poeta?
Talvez apenas gente.
Meu amor é tanto...
Quero a todo mundo
mas ninguém quer a mim
pois muito amor mata.
O que mais sei ser?
Bobo! É... Bobo!
Acho que a melhor canção
canta sobre minha história.
A mais grandiosa sinfonia
toca notas da minha alma.
Sou um solitário.
Conversador com flores.
Idealizador igual criança
que pode voar com anjos.
Meu coração dói sempre
por uma saudade que desconheço.
Filmes românticos me fazem chorar.
Acredito que o passado não morre.
Que o azul da noite guarda algo mais.
Se você é assim feito eu, me ache.
Vai ser muito bom te encontrar na esquina
de um sonho sonhador sem data marcada.

Uma flor merece ser conhecida também por dentro.






Foto de O.Heinze

sábado, 3 de novembro de 2012

Do beijo e da flor







Fotografia de O.Heinze da flor Glória-da-manhã.













Do beijo e da flor / por O.Heinze

Desabrochar da flor
deve de ser feito beijar
o primeiro beijo de amor
mistura de medo e deixar.

Abrir-se ao desconhecido
liberdade a enclausurar
pecado e permitido
castidade a castigar.

Romper-se de si mesmo
em néctar abundante
pureza voando a esmo
num tempo calmante.

Delírio ou verdade?
Embrulho a desembrulhar
imediata vontade
de continuar... Continuar...

Ouvir uns zumbidos
ver mil borboletas
cantar com cupidos
voar de cometas.

E antes que seja tarde
pois a flor vai despetalar
e o beijo que tanto arde
igualmente vai passar.


sábado, 27 de outubro de 2012

Indigência





fotografia de O.Heinze











Indigência / por O.Heinze

Quase morta, indigente,
mais caroço que bagaço,
já fostes fruta carnuda:
beleza aos sóis de verões;
pele perfumando primaveras;
nudez abraçando invernos;
flor livre ou enclausurada
ao balanço de sonhos e brisas.
Tal qual árvore frutífera,
fizestes vidas renascerem,
pois tuas raízes fortemente
sugavam a vontade de seguir.
Antes de serdes gigantesca,
fostes tão somente um brotar,
duas folhas a se limpar
do solo que rompestes.
E a semente que tu eras,
agora jaz somente terras,
as mesmas em que te deitas
sonhando em ter colheitas,

enquanto morres mais e mais
para renascer de ti semente.


sábado, 20 de outubro de 2012

Flor cristal












Fotografia de O.Heinze




Flor cristal / por O.Heinze

Não me incomodo
se uma flor
é branca ou preta;
pequena ou grande;
perfumada ou inodora;
breve ou duradoura;
da mata ou cultivada;
rara ou comum.
Mas que seja verdadeira
não só na aparência de fora,
mas na transparência de dentro.
Pois então ela perpetuará
mesmo depois do florir
e ainda além do despetalar.
Na alma igual às lembranças;
na semente igual a descendentes.
E o tempo será testemunha
de que o universo aqui floriu.

sábado, 13 de outubro de 2012

Dia nublado














fotografia: O.Heinze


Dia nublado / por O.Heinze

Essa chuva que chora
aparentemente sem motivo
sabe que não foi embora
esta solidão que eu vivo.

Solidão sem lágrimas não faz sentido.
Meus olhos são o temporal incontido.

Por que a chuva insiste
em ser mais cinza do que eu
tornando mais e mais triste
este morto coração meu?

Vá aguar por outro canto mais feliz
onde haja vida, sonhos, flores de lis.

Quando esta tormenta for
meu coração abrirá em sol
minha alma fará calor
toda vida será bemol.

Acharei um trevo de uma só folha, sozinha.
Um coração verde, novo, pura vida minha.

sexta-feira, 5 de outubro de 2012


                              Às vezes vou ao shopping só para ver se encontro algumas gaivotas.
Coringa / por O.Heinze

Não quis sair pela porta
e decidi pular a janela.
Minha casa estava tão morta
precisava fugir dela.

E igual um hábil ladrão;
ou mágico papai-noel;
ser de outra dimensão;
morador das zonas do céu,

passei pro lado de fora
e como se noutro país
sem humildade e demora
empinei meu rubro nariz.

E no show a céu aberto
que tudo faz acontecer
vesti roupa de esperto
e nunca mais me fiz morrer.

sábado, 29 de setembro de 2012

Corruíra / por O.Heinze

Desde muitos e muitos anos
há a permanência discreta
de um pequeno e singelo pássaro
no quintal ou jardins de casa:
escondido na pilha de telhas;
no amontoado das madeiras;
por entre as gramas e arbustos;
ou até mesmo sobre o telhado.
Tenho a impressão que é sempre o mesmo
e que crescemos juntos nesta vida.
Sei que seria fantasiar demasiadamente
achar que ele ainda vive após meio século,
mas seu canto parece inconfundível

assim como também seu modo de ser.
Acho que por não saber voar longe
ou não ter encontrado uma parceira,

mantêm sua morada por aqui,
recusa-se a morrer nesta existência.
Ou talvez a solidão seja sua vida,
pois não quer seguir este meu martírio
de morrer e morrer tantas vezes por amor...

Diversos cantos de um pássaro corruíra no quintal de casa ao amanhecer.


sábado, 22 de setembro de 2012

Confidência / por O.Heinze



foto de O.Heinze

Agora entendo porque as flores não falam,
não sorriem, não choram...
Porque eu faço isso tudo por elas e para elas
através das letras e também do meu eu.
Mas ouvirem, ah... Ouvem-me muito bem, pois,
quando converso com elas florem ainda mais viçosas
e se comunicam perfumando todo ar que respiro.
Nesse momento somos eu delas e elas de mim,
pois suas almas viajam em meu ser e meus sonhos viajam dentro delas.
Parece então, que quase sinto Deus me reparando no meio
desse universo que nem Ele talvez queira saber até aonde vai.
Mas chegam sempre os instantes em que as flores deitam e dormem,
dormem para sempre com meus sonhos
e eu acordo para a realidade das sementes.
Sinto que Deus está escondido dentro delas,
Ele gosta de brincar de esconde-esconde, bem o sei,
e nem me atrevo a orar para fazê-lo aparecer,
prefiro fingir que não sei que Ele está ali.
Sabe... Deus também é criança
e poderia não querer ser achado.
Quando as sementes crescerem e derem flores
Deus sairá feliz de dentro delas gritando contente
que eu não o consegui saber,
então voltarei abençoado para estar com todas elas.

sexta-feira, 14 de setembro de 2012

Manacá-da-serra



foto de O.Heinze

Manacá-da-serra / por O.Heinze

Quereria ser terra
para tê-la enterrada em mim
oh árvore mais bela
por hora de um jardim.

Dia virá ainda
que serás também do céu
de um azul que não finda
um todo eu em véu.




sábado, 1 de setembro de 2012

Magia da lua azul / por O.Heinze

Em média
a cada dois anos e sete meses
a lua azul aparece
e na minha floreira cresce
um perfume forte de flores
que soergue-se nos ares
e em foco com a lua
forma-se a imagem tua
encantando meus olhares...
Tamanha magia assim
ninguém acreditaria
então guardo-te para mim
num diálogo que eternizaria...
Mas a lua caminha no céu
desfazendo-te na manhã
largando-me no afã
de um misto de mel e fel...

sábado, 25 de agosto de 2012

Flor da Areia - letra e música de O.Heinze


Tão somente por nada
















Fotografia de O.Heinze


Tão somente por nada / por O.Heinze

Enquanto crianças e jovens
saltitam pela vida iguais sementes
fugidas da explosão de vagens,
velhos varrem as folhas das calçadas.
Nós das outras idades por nossa vez
buscamos algo que ainda não sabemos,
talvez a fonte da juventude;
a terra dos prazeres sem fim;
ou ainda mais que isso, o paraíso!?
Por outro lado os cães felizes
se contentam em comer e latir;
os gatos em comer e miar;
as plantas em comer e florir;
o sol em queimar e brilhar;
a lua por ter quatro roupas;
o mar por ter duas marés;
o barco por ter um casco;
a tartaruga por ter casa própria;
o colibri de uma asa por andar
e poder beijar flores do chão;
o passarinho cuco por ter relógio;
e eu por seguir na mesma toada,
rindo da minha risada.

domingo, 19 de agosto de 2012



Antes dos limões / por O.Heinze

Ontem fui conversar
com as flores do limoeiro,
talvez, pois, me sentia tão solteiro.
As flores me confortaram
e seus perfumes me falaram,
de que a vida faz adoçar,
basta experimentar.

foto de O.Heinze

sábado, 18 de agosto de 2012

Contando felicidade / por O.Heinze

Num dia muito amarelo
deitei sob a sombra das lembranças
e comecei a contar nos dedos
quantas vezes havia sido feliz.
E contei tanta felicidade
que perdi até as contas...
Relembrei a primeira vez
que equilibrei na bicicleta;
fui para a escola desacompanhado;
ganhei a medalha de campeão;
troquei o primeiro beijo (não técnico);
me apaixonei perdidamente;
uni mundos com outrem;
recebi cada filho meu nascido...
Pois é... Toda primeira vez é única
e de uma felicidade inigualável...

sábado, 11 de agosto de 2012

Brinquedos

 
foto por O.Heinze - 08/2012.


Brinquedos / por O.Heinze

Acho que você me foi
o melhor presente na vida,
o que causou maior surpresa.
Fui lhe desembrulhando com calma,
pois para mim cada segundo com você
era tudo o que eu mais queria.
Sentia que você igualmente
gostava muito de ser de mim
e tudo entre nos nós foi sendo
a melhor brincadeira do mundo.
Mas o lúdico também envelhece
e nossas risadas foram rareando.
Chegaram os dias em que parecíamos
aqueles brinquedos esquecidos no sótão,
de repente lembrados com saudosa alegria,
se ainda existiriam guardados e empoeirados.
E realmente estávamos lá esperando
para sermos sacudidos e limpados do desuso
na tentativa de reaver os risos de outrora.
Mas parecia que nada, absolutamente nada,
energizava a velhice nos brinquedos.

sábado, 4 de agosto de 2012

Tintas mortas







 fotografia de O.Heinze













Tintas mortas / por O.Heinze

Certo dia meu corpo carnal morrerá
e de mim aqui sobrará apenas tintas:
nas letras que formei poesia;
nas cores que pintei minhas artes;
nas fotografias em que aparecerei;
nas sensações que minhas músicas provocarão;
no sangue que doei vida afora;
no luto que talvez farei sentir.
Mas tudo isso também passará,
virará pó, menos que pó, nada!
Então me chamarão de: “quem foi esse?”.
E quando eu for esse jaz esquecido,
farei parte da real importância:
ser parte da composição silenciosa do mundo,
sem, contudo, levar mérito de nada.

domingo, 29 de julho de 2012

Para sempre / por O.Heinze

Vou vivendo para sempre
eternamente vivendo.
E nesta eternidade minha
senti uma terna idade.
E ter na idade assim
tanto tudo e tanto nada
fez querer saber mais de mim.
Fui lá para frente
num futuro, e ter na mente
todas as respostas do que serei.
E a cada tempo em que me acho
estou menos pedra e arrogância
e mais luz e fragrância.
Descubro que dentro do futuro
existe um futuro mais futuro
onde nem tenho mais forma.
Sou apenas clarão emanando vida
para quem ainda é pedra distraída.
Quando me busco mais além
já estou uma explosão Big Bang
nascendo em outros trilhares de pontos
desses universos intermináveis.
Percebo nesta fração de existência
que a criação ri de mim
que meu eu também ri de mim
pela minha pressa em viver
algo que ainda tanto precisa morrer...

sábado, 21 de julho de 2012

Espelhos e vidraças / por O.Heinze

Quando meu casamento era jovem
sentia feliz que cônjuge e filhos
olhavam para mim igual feito num espelho.
Em mim se encontravam nitidamente
e como que para se acharem me procuravam.
Ao passar dos anos essa busca diminuía
parecendo ser mais difícil se acharem em mim
e mais e mais fácil se encontrarem nelas.
Notava que a tinta prata do espelho
pouco a pouco se desfazia do vidro
até eu me tornar apenas uma vidraça
com fraco reflexo e a embaçar com o tempo.
Hoje me sinto tão pouco olhado e então lembro
dos meus pais enquanto eram meus espelhos
enquanto eram minhas vidraças embaçadas
e quando voltaram a ser meus espelhos novamente.
Um dia todos seremos vidraças
e de uma transparência muito limpa
que até poderão ver através de nós todo céu
enquanto lembranças dos espelhos
ficarão refletindo nos corações saudosos.

domingo, 15 de julho de 2012

Entre a terceira e a quarta dimensões / por O.Heinze

No alto de uma montanha intocável
que somente por pensamento se pode ir
ovelhas e nuvens brancas andam juntas
ora parecendo voar, ora parecendo no chão.
Numa lousa azul feita de puro céu
a paz é escrita por borboletas
e flores sempre-vivas jamais adormecem
sobre o esmeraldino tapete de relva.
O ar é o alimento dos que aqui existem
tempo é algo que não se conta
e campainha nem há, mas toca
a campainha toca pela segunda vez
fazendo-me descer da montanha alta
para minha sala a quase nível do mar.
Abro a porta e alguém muito sorridente
quer me vender coisas pesadas
dessas que se usam nas grandes cidades
igual a que vejo por detrás do vendedor.
Agradeço, fecho a porta e me sento
entre a terceira e a quarta dimensões
tentando lembrar que dia é hoje mesmo?!

domingo, 8 de julho de 2012

Fábrica de Borboletas

Minha tela a óleo finalizada em Julho de 2012.




















Título: Fábrica de Borboletas.
Dia blue / por O.Heinze

O dia era blue, beautiful.
Então os sóbrios pardais
vestiram do mais puro azul
enaltecendo os quintais.
Os céticos, pobres de alegria
disseram ser pássaros sanhaços.
Que culpa temos eu e poesia
se estávamos aos abraços?!
Por dentro do meu ser
tudo era magnifique, wumderbar
num amor que chegava a doer
de uma sensação sem par.
Bicos-de-lacres em lindo tom
eram para mim coleirinhas
com lábios de coral batom
soando doces campainhas.
Enfim, nesse dia wonderful
os sérios viviam da razão
enquanto minha loucura azul
era tão somente emoção.

domingo, 1 de julho de 2012

Porque metade de mim é noite








 fotografia de O.Heinze












Porque metade de mim é noite / por O.Heinze

A noite me é mais
muito mais que isso:
esse azul profundo;
essas estrelas perdidas;
perfume doutro mundo;
quatro luas distraídas;
contraste de pirilampos;
cantares de insetos;
silhuetas dos campos;
das mariposas o teto;
espaço de fantasias;
sinônimo de madrugada;
inspiração de melodias;
paixão desenfreada.
A noite é meu poder;
metade do meu rosto;
meia alma de meu ser;
templo de rir e desgosto.
A noite me é muito mais:
é o silêncio que comunica;
o vazio que completa;
o infinito que ilumina.

domingo, 24 de junho de 2012

Janela do coração / por O.Heinze

Entrei pela janela de teu coração
no dia de teu maior sol
e levei todas as flores do jardim de minh‘alma
mais a poesia preferida da minha lembrança.
E antes que me negasses
tapei tua boca com um beijo morno.
E antes que me expulsasses
te abracei com todo amor do mundo.
Tanto que teus joelhos arquearam comigo para o campo
onde rolamos de rir sobre um colchão de gramado
e criamos uma paixão rubra e um amor rosado.
Quando demos por nós
as estrelas já caiam sobre nossas cabeças
e voltamos para casa
para sonhar pela segunda vez.

domingo, 17 de junho de 2012

Olhos nos olhos / por O.Heinze

Dentre todas as pessoas
eu quero apenas uma
que faça pergunta nenhuma.
Pois que a boca mente
mas nos olhos claramente
a verdade se escancara.
Também na exposição da cor
não essa seja qual for
revestindo com pele as iguais carnes
que sofrem preconceitos duros
de uns tantos ignorantes covardes
mas os que de olhos maduros
enxergam nos tons dos mais puros.

Quando dentre todas as pessoas
nos acharmos, num dia, atoas
mas nos perdermos num olhar...
o mundo vai desintegrar.
A minha e a tua cor
vão juntar no amor
nossas almas igualmente
assim como mãos, lábios, mentes.
E por um breve tempo
nossa existência distraída
sentirá o que é ser vida...

domingo, 10 de junho de 2012



Procissão e chuva / Desenho com lápis de cor e grafite sobre sulfite / por O.Heinze

Para ler num dia de muita chuva / por O.Heinze

É um dia daqueles:
chuva torrencial.
Muitas e muitas pessoas
se arriscam sair nas ruas
e são atacadas sem trégua
por bandos de sombrinhas
e guarda-chuvas planadores.
Por mais que essas gentes fujam,
se esgueirem, mudem de rumo,
essas coisas se mantém insistentes
sobre a população alucinada.
Apesar de o espetáculo ser colorido
e de uma dinâmica ímpar sob as águas,
a cena é também chocante e fria.
E para piorar o dia cinzento
é dado outra notícia alarmante:
Um monstro chamado Congestionamento
está engolindo carros, caminhões,
ônibus e tudo que tenta avançar
nas vias marginais e avenidas principais.
Segundo consta, ele é gigantesco,
cerca de duzentos quilómetros.
As pessoas dentro dos veículos rezam
ou blasfemam e desejam imensamente
que o monstro desapareça, porque se não,
terão que doravante seguir a pé
e isso significaria ter que enfrentar
os terríveis bandos voadores
de guarda-chuvas e sombrinhas.

segunda-feira, 4 de junho de 2012

A cereja e o vagabundo / por O.Heinze

Liberdade talvez seja
meu olhar perdido
a imaginar a cereja
que no caule pendido
ainda é flor de pólen
balançando ao vento
driblando insetos que podem
ter para si todo contento.
É feito alguém alheio
pois sem memória do mundo
nem saber de onde veio
simplesmente vagabundo.
Sem noção qual dia é
nome, idade, profissão
sem roupa e calçado no pé
meio que doutra dimensão.
Liberdade talvez seja
fechar os olhos e sonhar
esteja aonde esteja
o bolo sem cereja
e a alma a rimar...