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sexta-feira, 27 de junho de 2014

Sou? / por O.Heinze















Fotografia: O.Heinze



O.Heinze



Sou?

Quase entendo a loucura
do voo de alguém que salta
para o vazio da morte
e entre o cume do edifício
e o asfalto alheio e rijo
tenta saber sua identidade.
Desde sempre busco me achar
inteiro na minha individualidade,
mas algo falta e me castiga,
algumas peças do todo
que completariam meu eu.
E assim me vou buscando:
no olhar nos próprios olhos;
na ilusão dos vícios;
na atmosfera do romance;
na experimentação sexual;
na inocência da minha infância;
nas rusgas de minhas rugas;
na vida e morte diárias;
durante a partida de xadrez;
na meia laranja que não chupei...
Em milhares de pessoas me busco.
Não me acho dentro nem fora.
Quê raios sou eu???
Quê diabos sou eu
além das carnes, ossos,
mente, ectoplasma e espírito?
Os grandes filósofos já sabem.
Os mestres da interiorização também.
Todos dizem que sabem
quê são eles e até os outros.
Mas eu não sei,
continuo querendo me encontrar
para poder me apresentar à mim.
Você que sabe quê sou eu
não me diga, deixe eu descobrir,
pois mesmo que esta busca
seja sem fim, eu preciso tentar,
tentar saber quê sou
e principalmente porque sou.

sábado, 21 de junho de 2014

Porque sou homem / por O.Heinze

Ser mesmo homem
é chorar igual criança
na saudade da lembrança
pois as forças lhe somem.

É plantar e colher flores
para distribuir com amores
e mesmo nos dias sem cores
sorrir feito fazem os atores.

Ser homem de verdade
é ser um tanto mulher
para bem tratar quem vier
de toda essa humanidade.

Pois o homem completo
carrega todo sentimento
sabe o quê vai por dentro
da mulher que leva o feto.

E então ele é feliz
pois entende a mulher
e recebe quem estiver
pedindo ajuda e diz:

Sou apenas um homem
mas posso carregar o mundo
tenho o amor mais profundo
me levem todo, tomem!...

quinta-feira, 12 de junho de 2014



Salvação



Fotografia de O.Heinze









Salvação / por O.Heinze

A chuva caiu
e todos se refugiaram,
pássaros, bichos,
insetos e gente,
até os peixes afundaram.
Mas eu não,
eu continuei
seguindo sob ela toda.
Suas gotas cantavam algo
que somente eu podia ouvir,
um hino de solidão e paz.
Cada gota trazia um beijo,
um carinho escorrendo ao rosto
e toda doce salvação.
Minha roupa colada ao corpo
queria me prender sem dó
neste mundo de misérias,
mas eu já estava líquido,
translúcido e purificado.
Adeus vida dura e seca!

quinta-feira, 5 de junho de 2014






















Não sou este / por O.Heinze

Sou estas linhas de expressão
chamadas velhice, exaustão,
cravadas pela dor,
pela falta, pelo desamor.
Sou uma risada chorosa,
rindo de mim mesmo, só,
rodeado por milhões de gentes
tão ou mais sós do que pó.
Sou estas cicatrizes feias
colhidas nos desenganos,
no destruir dos bons planos,
na surpresa da vida cruel,
ora no inferno, ora no céu,
feitas por uns desumanos.
Sou uma pele mal querida,
seja na cor que tiver.
Sou um coração em ferida,
o provável malmequer.
Que se dane se eu morrer,
morrer é apenas ilusão,
morte é este sofrer,
esse modo de sobreviver
nessa vida de cão.
Eu na verdade não sou este
desgraçado de tudo e nada,
sou algo além deste,
sou pessoa santificada.