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terça-feira, 13 de dezembro de 2022

N'alma
por O.Heinze 

Talvez, em havendo eternidade,
mostraremos toda verdade,
da condição que formamos
enquanto estivemos humanos.
E numa transparência total,
pois já sem o corpo carnal,
não teremos mais cor, raça,
sexo, religião, "poder",
apenas seremos energia.
E sem poder haver mentira,
máscara, disfarce, alegoria,
transmitiremos integralmente 
nossa identidade de alma.
E incontestavelmente 
certas almas estarão perfumadas,
outras tantas, encantadas,
algumas, tão iluminadas,
atraindo vagalumes em revoadas.
Mas também haverão almas penadas?
Cobertas com nuvens acinzentadas?
Formando em si só trovoadas?
Chorando chuvas de arrependimentos?
Trilhando ruas e vales de lamentos?
Talvez, um dia, seremos almas livres,
onde voaremos, se formos pássaros,
mas pesaremos, se formos pedras.
Brilharemos, se formos sóis,
esconderemos, se formos sombras.

Santo André, 06/12/2022.

quinta-feira, 17 de novembro de 2022

Teu Silêncio 

para Íris 

por O.Heinze 


Graças ao teu silêncio, 

aprendi a conhecer-te inteira, 

mergulhei em tua alma,

aspirei a tua essência:

feromônio de pétalas doces

abrindo-se em sonhos de luz…

Teu silêncio me é magia,

encantamento de noite azul,

alor de lábios sedentos,

fonte de ternura e amor.

Ora, o amor, que é feito tu!

Pois que vive igualmente calado, 

espargindo fragrância invisível,

libertando do medo o pudor,

tonteando a mente poeta, 

envolvendo em um quê de dor, 

um delicioso sem sentido de viver,

levando ao prazer de quase morrer.

Teu silêncio é mistério ao mundo,

mas não para este teu anjo oriundo

lá do profundo do teu olhar,

onde entendo o teu comunicar.

Sim, teu olhar que quase revela

todo segredo da tua aura singela,

repleta de cores e estrelas, 

pois és um universo fecundo.

Me fizestes tornar uma luz,

tão somente com um olhar,

que não farias com um dizer

que nunca outrora ousastes contar?!

Mas não o digas ainda para mim,

pois sou um recém-formado sol,

nascendo em teus céus de mistérios.

Guarda-me em teu silêncio sem fim,

tu, universo de galáxias de amor,

e mantenha-me sempre aceso

em teu infinito olhar de fulgor.


Santo André, 03/11/2022.


sábado, 22 de outubro de 2022


Pétalas sem flor,

a mulher que dizia me amar.

por O.Heinze 


Em redor deste simples eu,

estrelas do céu vem ao chão.

Meus pés não são meus,

nas areias perdidas do mar

da vida a me naufragar,

onde ondas vêm e vão,

num sussurrar de solidão.


Aqui eu me recomponho

e sinto a mentira do mundo,

a frieza do espaço profundo 

entre as pessoas e os sonhos.


Pressinto que em algum lugar

meu eu da coragem existe,

à beira-mar do amar,

sua esperança persiste,

com a vida da alegria.


Cai mais uma lágrima triste.

Adeus lembrança onde eu ria.


A lua chama de volta,

a maré triste que me escolta,

então, lanço meu pedido 

dentro da garrafa da fé,

depois, a flor do amor perdido,

da mulher que já não é,

pois vai fluindo em marcha à ré.


Que a garrafa possa alcançar

um eu cheio de esperança, 

ou meu eu sóbrio da temperança,

para, enfim, meu eu me resgatar

e sanar esta dor cruel;

este amargo gosto de fel;

este suplício em parecer réu;

esta falta de ouro do anel.


Duas almas brindam 

a paixão na imensidão ao léu,

enquanto meus eus findam

meus ecos do ego sem céu. 


Santo André, outubro de 2022.


 





domingo, 2 de outubro de 2022

Chuvas e lágrimas 

por O.Heinze 


Essas chuvas sequentes

que tocam à noite ou de dia,

tal e qual uma forte sinfonia,

e soa docemente,

ou avassaladoramente,

são águas diversificadas, 

que subiram, pois, evaporadas,

formaram nuvens brancas de paz,

ou iradas, pelos raios que faz,

pois tem em si as emoções 

boas ou ruins das multidões.

Do lacrimejar de quem muito sorrio,

ou quem sofreu e desaguou a chorar;

ainda quem sobreviveu por um fio;

e quem morreu só, só por amar.

Essas águas são milenares,

já desceram e subiram 

por todos os lugares,

por vezes e vezes ressurgiram,

nos olhos teus, também nos meus.

As nuvens choraram

o choro dos antepassados,

que sequer imaginaram,

mas, hoje, suas lágrimas voltaram

em nossos olhos emocionados.

Sem chuvas não há vida.

Sem lágrimas como externar

a dor comovida, sofrida?

Ou ainda comemorar

a criança recém-nascida?

De qual forma transbordar

a alegria incontida?

De que jeito desafogar

a derradeira despedida?...


Santo André, 

27/28 de Setembro de 2022.

quinta-feira, 22 de setembro de 2022

Amar o próximo mais que a ti mesmo

por O.Heinze 


Pessoas se achegam até mim

vestidas de cordeiro ingênuo, 

mas meu sexto sentido nato

enxerga toda má fé que trazem.

Elas se divertem por dentro,

acham que  me enganam,

e eu as deixo à vontade,

pois são dignas de piedade.

Acredito que todo ser merece

uma chance de se redimir,

de se tornar alguém melhor.

Muitos pensaram ter me iludido,

pobres diabos… Sofredores!

Levaram meu dinheiro, meu tempo,

minha bondade, minha oração,

minha santa palavra, sorrisos,

minha atenção sincera, beijo,

abraço, bons conselhos,

olhar enternecido, vibração pura,

desejo de sorte, de ventura…

E vão… Com sua dissimulação…

Minha esperança maior

é que eles se encontrem 

com a sua consciência,

essa mesma que mostra sempre

quem somos e para onde vamos.

Que troquem os tantos risos

de enganação e ilusão,

por lágrimas de arrependimento

e libertação do seu mal.

Pois que enganam a si próprios,

não se amam, não amam ninguém. 

A Vida é feita de Amor.

Onde não há amor, não há vida.






Marionete da vida.

Marionete da vida

por O.Heinze 


Eis que vou pelo meu destino,

o qual não entendo e não aceito,

pois com ele em nada combino,

sobrevivo por um corredor estreito.

Fujo de mim, dos dias iguais,

sou mais um entre os pardais,

brigando por restos de pão. 

As linhas invisíveis do não,

me prendem em varais,

dentro de um quadrado, quintais,

o meu tempo é temporão.

Mas minha ira rompe o medo,

eu enfrento a tempestade só,

grito por liberdade, mas que dó,

o vendaval rouba minha voz cedo.

Queria contar tanto este segredo,

mas ninguém passa neste cafundó.

Parece que o invisível me guia,

minhas pernas vão em outro rumo,

uma estrada que sequer eu queria,

e minha razão vai fora do prumo.

Eu não posso ser eu mesmo?

Não aguento mais este desgostar!

Valho menos que um torresmo?

Minha alma tem tanto a brilhar…

Danço sem querer dançar. 

Rio de tanto exasperar.

Choro, não posso argumentar.

Resisto, mas já quase sem ar,

não tenho mais o que me matar.






domingo, 26 de junho de 2022

Mulher Única

Mulher Única 

por O.Heinze 

Tu mulher, que te achas sós,

enganas-te disso, pois,

meus olhares são todos teus,

enamorado secreto, eu,

lha amo perdidamente…

Não sou inconsequente 

mas, sim, exatamente assim,

lha tenho em meu amor,

respeitoso, ditoso,

afinal, és das flores, a flor,

sem outra exatamente igual,

unicamente especial,

nessa tua forma natural.

Dás-me tuas santas riquezas,

feitas na carne e na alma,

eia, espalha tamanha beleza

para meu devaneio ter calma:

ofertas-me teus lábios proibidos

d'onde nasce sorrisos,

revelas-me teu abraço incontido,

perfeito, pleno, preciso!

Abras-me teu coração, 

igual faz o virgem botão,

falas-me de ti, feitas em oração, 

dás-nos toda permissão.

E mesmo que tudo pareça 

absurdamente um sonho,

faças com que tudo compareça 

na verdade que componho:

lha amo simplesmente

por serdes em si a mulher,

surgindo à minha frente,

jamais a vi anteriormente,

mas lha amo, tal qual és. 

Santo André, 12/06/2022.

sexta-feira, 20 de maio de 2022

Ecos da Vida - por O.Heinze

Ecos da Vida

por O.Heinze 


Uma saudade inclemente 

evapora tristezas do meu coração,

que de tempos em tempos

formam a tormenta sobre meus olhos,

até pesar insuportavelmente 

e desaguar em lágrimas amargas,

demoradas e deprimentes,

ácidas e pungentes…

E no limiar entre vida e morte 

busco um lenitivo, uma sorte,

que me faça renascer em sol,

ou me guie uma ilha com farol,

livrando minha mente desta prisão,

sem chave, ar, chão, solução. 


Eis que o dia nasce contado

por pássaros felizes, do nada!

Meu corpo reage encantado,

minha alma se sente amada.

Escancaro a janela ao dia

e todas as cores me capturam.

Em minha mente toca melodia,

novas esperanças me juram.


segunda-feira, 4 de abril de 2022

O segredo da felicidade

O segredo da felicidade
por O.Heinze 

Quem, afinal, encontrou a felicidade neste mundo físico? Parece que ninguém. E olha que já procuram por ela há milênios! Então, explicam frustrados, de que a felicidade na verdade não existe, o que existe são momentos felizes, ponto!

Em síntese, a felicidade não é possível neste mundo de coisas e confusões. Você pode procurar por toda a sua vida, comprar o mundo e as pessoas, conseguir uma viagem para outro planeta, mas não, não vai encontrar fora de você esse estado de alma.

Longe de mim querer te influenciar a desistir das coisas do planeta, só quero que você entenda que egocentrismo não vive no mesmo campo da felicidade. Claro que você pode ter as duas coisas, mas para ter a felicidade você vai precisar viver "duas vidas" ao mesmo tempo, poderíamos dizer, a externa e a interna. Interna onde??? Pois é, só você poderá descobrir. É como se fosse dentro do corpo carnal, mas ao mesmo tempo dentro do universo. É uma sensação perene e mesmo que tudo esteja dando certo ou errado na vida fora, a felicidade continua sempre nessa vida dentro.

O caminho para se chegar à felicidade pode ser longo ou apenas um passo.

É uma descoberta em sua individualidade etérea, misturada com toda a eternidade (criação).

Quando você realmente desenvolver seu eu crístico e despertar para essa razão, estará pleno nas vidas fora e dentro, será impossível não ter a felicidade. 

A isso chamamos consciência cósmica. Porém, para viver nesse estado sublimado é preciso ter coração puro e ser virtuoso, equiparando com a energia divina, e então, se fazer onipotente, onisciente e onipresente. 

A felicidade é para bem poucos ainda, pois a maioria é descrente dos valores intangíveis, ou porque prefere os prazeres mundanos, mesmo sendo infeliz.

Santo André, 03/04/2022.

Flor de Miguel Arcanjo

A flor-de-são-miguel dá em cachos e suas flores violetas/azuladas, já maduras, vão caindo uma a uma separadamente, até a haste ficar sem flor.
Pois eu encontrei este cacho inteiro e ainda com todas as flores secas presas nesta formação, sobre minha mesa da marcenaria. Minha vizinha tem uma árvore dessa flor, mas fica a uns 30 metros de onde a encontrei e atrás de uma parede bem alta. Não consigo explicar este fenômeno, talvez um presente de Miguel Arcanjo?! 🙏

terça-feira, 15 de março de 2022

Parece ficção, mas é crônica

Parece ficção, mas é crônica. 
por O.Heinze 

Durante a infância 
não mensuramos 
o mundo dos adultos.
Sequer entendemos
que existem raças diferentes,
fronteiras e países. 
Que algumas pessoas 
se acham mais importantes
que todas as demais. 
Na guerra, então,
não assimilamos a violência 
de adultos matando adultos.
E adultos matando crianças?
Achamos que é mentira,
afinal, os adultos existem
para proteger as crianças,
para dar bons exemplos.
Eles já foram crianças também
e deveriam se lembrar.
Crianças do mundo inteiro
tem o mesmo sangue,
são da mesma família, 
chamada humanidade,
de sobrenome ingenuidade. 

"Seria possível ainda existir
este tempo assim insano?
Com seres sem almas,
que sequer vivem, pois,
são carcaças sem corações, 
movidos por cordames 
do sistema sanguinário e infernal,
que mata até a própria carne, 
para sentir o poder ignóbil."

"As mulheres 
personificam o amor.
As crianças 
glorificam a paz.
Os homens poderosos
adoecem o mundo."

Santo André, 15/03/2022.

terça-feira, 18 de janeiro de 2022

Um Parafuso a menos / por O.Heinze

Vivo uma urgência em me completar

de algo que ainda não sei explicar. 

Busquei por coisas maravilhosas

na ânsia de preencher esta falta penosa,

mas ao dar-lhes as costas, ficaram para trás, 

pois do mundo não se leva nada, nem traz.

Sigo com esta sensação estranha, tipo, respirar uma vida inteira e não ter reserva de ar;

cultivar flores e mais flores que avivam e após seu glamour se desfazem num piscar.

Nada completa esta lacuna faminta 

de me fazer sentir a satisfação plena.

E pensar que sou feito da matéria

de estrelas desintegradas, pena,

não deveria me sentir disperso 

pois sou parte do universo,

mas a incógnita desta busca prossegue,

esta urgência em me completar

de algo que ainda não sei explicar. 

Já tive amor tão grande no coração,

paixão em erupção, ardente igual a vulcão, 

que derreteram em si mesmas, 

esfriaram e se tornaram rochas frias e crespas.

Tive a felicidade intensa que fugiu 

numa enxurrada de lágrimas amargas.

Quase fui engolido por mar e rio

e a morte pareceu uma pesada carga,

mas não preencheu o meu nada. 

Conheci igrejas suntuosas e imponentes,

de onde saí com menos de mim do que entrei.

Compreendo que as coisas do mundo passam, orei,

porque absolutamente tudo um dia acaba

e as coisas do espírito são intangíveis,

podem e não podem ser críveis. 

Incrível é a urgência em me completar

de algo que ainda não sei explicar,

pois posso dar a volta ao mundo

e tudo que trago na mente não me é oriundo.

O dinheiro não compra tudo!

Gastei mundos e fundos 

e nada completou o oco mudo

da parte que me falta, nem os Tundos.*

Sou mais um ruminador pastando no campo da ignorância humana;

voador sem asas, planando em minha fantasia insana;

submergido numa represa de conjecturas;

Enterrado em minhas raízes por esta procura,

que somente eu poderei um dia desvendar

e finalmente não sentir em mim o faltar

de algo que ainda não sei explicar.



*Tundos: Chefe de sacerdotes gentis, na África.  

Espécie de doutor, em escolas do Japão. 



Santo André, 29/12/2021.

Morrer é só um sonho / por O.Heinze

Morrer é só um sonho

por O.Heinze 


Morrer é uma maneira de mudar

para um novo experimentar. 

Igual barco que viveu a navegar

e cansa, afunda para vislumbrar 

lá ao fundo o seu novo lar.


É  fruta madura a se largar

da frondosa árvore da vida

e feliz sente ao despencar

o poder de ser incontida.

E ao chão se faz desmaiar

mas em contrapartida

seu núcleo renasce no pomar.


Morrer é um estado de sono

igual quando se vai dormir.

O cansaço é nosso dono

deixamos de aqui existir.

Na nova manhã iluminada

lentamente despertamos

com a vida renovada

sensação de que voamos.


Morrer é o fato de perder 

o ser que amamos

e seguimos sem entender:

se nos separamos

porque após tantos anos

ele ainda parece viver?!...


Santo André, janeiro de 2022.

Chove por dentro

A chuva que chora por ora

lavando os pecados 

de agora e outrora 

e chora mais na agonia

pelas lembranças da magia

quando houve vida e alegria

são passageiras

feitas as aves viageiras 

de menos um dia.


Às vezes, o tempo se atormenta 

em nuvens pesadas se arrebenta

engolindo tudo ao chão 

rasgando o céu com explosão

e sendo culpado ou não

uns e outros somem desta dimensão. 


Mas essa torrente não rega

o deserto da solidão 

dos olhos que ela escorrega

da pessoa em aflição. 

Então essa chuva somente goteja

nas várias flores já ceifadas

enfeitando o caixão que as leva

sobre a morte a ser sepultada.


Santo André, 8/1/2022.