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quinta-feira, 28 de fevereiro de 2019

Ser Camaleão por O.Heinze

Minha essência é negra
mas me revestiram de branco
na pele e na educação
e azul é a cor de meu olhar.
Meus cabelos são claros e lisos
e meu sobrenome é europeu.
Mas amo o povo africano,
sua dança, seus costumes
e sua ancestralidade.
Porém, minha alma é além
e posso saber ser um ser amarelo
enquanto pratico arte marcial;
ser vermelho quando subo em árvores
e corro nas campinas
ou mergulho em lagoas;
ser invisível quando medito e me transporto;
ser transparente na minha verdade;
ser verde ao abraçar uma árvore;
ser cinza na tristeza de ver um mundo
distante de si mesmo, morrendo;
ser preto dentro de um luto,
pois luto pelo amor
que igualaria as cores
ao ponto de misturá-las
produzindo tantas variações outras
de cores que ao mundo dariam vida.


quarta-feira, 13 de fevereiro de 2019

Alimento da Alma / por O.Heinze


O amor,
semelhante à flor,
nasce de um coração verde,
mas em se abrindo,
mostra toda sua cor
colorindo... colorindo...
em êxtase de fulgor,
chegando a perfumar inteiro,
pois já tão maduro, verdadeiro,
explode em um gozo de dor,
não se suporta, despetala,
caindo em água que iguala,
em um assim, quase morrer,
das lágrimas que o cala,
pois na vida não existe fala,
com palavra que o pudesse dizer.

Minha Riqueza Eterna / por O.Heinze

Dizem que se mede a importância de alguém pelo que ela juntou na vida.
Eu tenho tanta coisa conquistada e ganhada que nem sei bem mensurar.
Acho que já guardei através do olhar, mais de um milhão de flores;
já ouvi direcionado à mim milhares de -bom dias!;
quantos não foram os abraços apertaaados que me receberam;
os apertos de mãos olhos nos olhos;
e os sorrisos... Ah os sorrisos que fizeram meus dias mais felizes;
as lágrimas de dor ou de alegria pura que me fizeram uma pessoa melhor;
as gargalhadas que me levaram de volta à infância;
o pão nosso de cada dia, acho que foram mais de 21 mil deles;
e goles de água, ah esse líquido sem igual, precioso, que nunca me faltou;
e os nasceres e pores de sol... Ouro do melhor quilate;
agora quantas vezes respirei? Nossa, perdi até o fôlego só de tentar contar;
e minhas pernas, quantos passos me levaram por essa vida afora onde vi tanta fauna e flora...;
Até casa própria eu ganhei e é enorme, lindamente decorada.
Dou-lhe o nome de planeta amado. Outros chamam-na de Terra.
Enfim sou uma pessoa rica de tudo e mais além... Quando reclamo é tão somente para variar,
não achar que minha vida não precisa de mais nada
e continuar ganhando as verdadeiras riquezas deste mundo.
Sei que um dia essa terra haverá de me comer
e terá devolvido de mim tudo quanto usei para me manter de carne e osso.
Se por ventura minha alma continuar, então estarei pleno de luz,
essa mesma formada de amor e gratidão.

Jaula de inocentes / por O.Heinze

Foi tanto o tempo 
sem ter você por perto 
preferiria jamais 
ter lhe conhecido. 
Antes eu era pleno 
agora há um vazio 
que nada preenche 
que não termina... 
Um certo dia 
você voltará aqui
 e nesse dia bendito 
sei que estará 
inteira para mim 
eu estarei inteiro 
com você, para você 
mas talvez 
eu não lhe queira 
pois o que será 
depois de tanto amor 
comunhão, êxtase? 
O cansaço a saciedade 
a conquista o poder. 
Quem tudo pode 
nada tem! 
Ah o durante... 
Não e o começo
 nem é o final. 
O durante é o incapturável 
o indominável o invisível. 
Um sentir que não se repetirá. 
É uma vez para nunca mais. 
Ah o durante... 
Jaula de inocentes. 


Lembra quando a gente foi criança? / por O.Heinze

Lembra quando a gente foi criança?!
Começávamos a rir por nada 
e não conseguíamos mais ficar sérios, 
doía até o maxilar. 
Quantas vezes procuramos esperanças 
nas plantas dos jardins, 
achávamos que elas nos trariam sorte. 
E o louva-deus que corria de nós, 
afinal, não o deixávamos em paz. 
Nos corredores ao lado das casas, 
corríamos para ver quem alcançava o outro, 
e ainda tinham as escadarias 
que deixavam a gente com a lingua de fora. 
Foi tanta coisa que fizemos juntos... 
Pular corda, contar mentira, piada, 
fomos ao parque de brinquedos e nos balançamos, 
rimos muito notando que as pessoas nos olhavam 
para ver se estávamos aprontando alguma. 
Fazíamos o lanche e o almoço juntos, nossa... 
Éramos inseparáveis! 
Soltamos pipa na praça. 
Uma vez você subio na árvore para pegar frutas 
e atirava para mim lá abaixo... 
Oh meu Deus, que tempo lindo... 
Quanta flor não roubei das calçadas, 
só porque a gente gostava 
de enfeitar um vasinho preso à parede, 
no local onde nós mais parávamos. 
Eu dançava desengonçado, 
só para fazer você torcer o nariz e rir sem dó. 
Volta e meia cantávamos alguma música, 
quando não sabíamos a letra, a gente ia inventando. 
Teve àquela vez que fomos para a praia 
e à tardinha saímos à procurar conchas... 
Andamos tanto, enquanto fazíamos planos 
do que faríamos depois do jantar... 
Hahahaaa... 
Mal acabamos de jantar e capotamos de sono!  
Bem... Só que deixamos de ser crianças, 
ficamos adultos novamente, 
estamos sem graça, sem esperanças,
 sem danças, sem conchas e pipas, 
sem flores e doces, sem corridas e risadas, 
sem balanços e cores, sem poesia e cantos, 
sem café com bolo, sem abraços e beijos delicados, 
sem olhar nos olhos, sem rir até doer... 
Estamos adultos e ficamos sérios demais. 
Nossas almas nem estão mais tão leves 
e nossos corações têm medo de amar livremente. 
Sabemos bem, por agora, ter saudades e chorar. 
Mas àquelas crianças ainda existem, 
estão prontas para voltar, 
continuam em nós para fazer a vida feliz 
assim que quisermos... 
Então fica o embate 
de quem é mais precioso: 
a criança ou o adulto?!

Uma Flor por Outra /por O.Heinze

Oh roseira bendita 
tão frágil tu nascestes 
de um galho, acreditas?! 
Quão bom que vivestes. 
Plantei-te para alguém 
que florira nossas vidas 
que fizera todo o bem 
no amor e nas lidas. 
Tu, roseira verde 
crescestes alta e forte 
mas queria tanto ver-te 
florida em belo porte. 
Mas tu não floriras não 
vivias simples por agora 
ser alvo de minha atenção 
tão somente a senhora. 
Em um dia cinza e triste 
essa mulher foi-se do nada 
e minha vontade tu cumpristes 
ao brotares a primeira florada. 
Vês? Deus não abandonas! 
Agora somos tu e eu. 
Perdemos nossa doce dona 
mas vivemos dos perfumes teus.

O quarto das escolhas. por O.Heinze

Imagine-se dentro de um quarto escuro, 
pequeno e apertado, 
com duas pequenas janelas de luz, 
uma entrada de ar, 
duas entradas de som, 
uma porta para receber coisas, 
duas para se desfazer delas 
e que você viverá toda uma vida aí dentro, 
sem jamais poder sair, 
você ansiará desesperadamente expandir-se, 
ir além, mas não poderá. 
Transfira agora essa situação 
para seus órgãos internos. 
Você é o quarto e eles estão fadados 
à viver toda uma vida de clausura. 
Você é quem selecionará 
o que receberá pelas janelas de luz, 
entradas de ar e som, 
pela porta de recepção. 
Consequentemente as coisas 
que irão sair pelas outras duas portas. 
Você manterá a manutenção interna desse quarto, 
para que ele seja o mais organizado possível 
e assim, externamente, se manterá igualmente bem. 
Você selecionará o que irá comer, beber, 
ouvir, respirar, enxergar, dormir, sentir, 
exercitar, trabalhar, estudar, amar, sonhar, 
sorrir, sofrer, chorar, etc. 
Somente você será responsável por esse único quarto. 
Um quarto somente, 
que valerá uma vida 
bem vivida ou não.