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sábado, 25 de dezembro de 2010




Do leito do hospital / por O.Heinze

Do leito do hospital
olho além da janela
no céu de puro azul
voa alto um urubu.

Queria que ele pousasse
aqui na minha janela
e me emprestasse suas asas
para eu sentir liberdade...

Mas talvez eu não voltasse
para dentro da janela
e eu não poderia deixar
o urubu sem as asas adoecer.

Voltei olhar pela janela
o urubu voa com amigos
lembrei que tenho amigos
logo vamos voar juntos...

domingo, 19 de dezembro de 2010


LUZ DE DEUS sobre O.Heinze


Queria conversar com Deus / por O.Heinze

Queria conversar com Deus
mas tipo: olho no olho.
Ir à sua casa (não de nuvem)
casa dessas de verdade
com rua, número, cidade.

Falar que ando triste
cansado de ser adulto
da ilusão em que vou...

Se encontrasse com Deus
pediria minha infância de volta
meus peões, pipas, gibis
e àquela alegria.

Sei que criança vive na ilusão
mas é uma ilusão cheia de vida.
O adulto sobrevive de ilusão.

Penso que o viver ainda
não é coisa para mortais...

domingo, 12 de dezembro de 2010

Para quem gosta de conto, aí vai: "MENINO"


Osvaldo Heinze ao centro com 13 anos de idade.

Menino / por O.Heinze

“Menino” era uma criança adorável e que conheci muito bem. Na verdade o vi nascer e sempre acompanhei sua educação, por conta disso posso falar da vida de traquinagens que esse molequinho gostava de levar.

Sua família não tinha uma condição das mais fáceis e raramente podiam lhe dar o brinquedo que ele sonhava, então ele inventava com que brincar fazendo assim seus dias mais animados e divertidos. Bem... O que não lhe faltava era criatividade.

“Menino”, como era chamado por todos, recebeu esse apelido pelo fato de toda hora estar sumido por algum canto da casa ou do enorme terreno repleto de árvores e plantas ou ainda num coberto nos fundos de seu quintal onde todo tipo de tralhas eram guardadas. Nesses espaços que ele criava suas “artes” como passatempo. Sua mãe vivia chamando-o para se certificar do que ele estava fazendo e como ele nunca respondia, ela insistia:

-Cadê você menino? Ô menino que some toda hora!

Responda menino!

Até uma arara que vivia no quintal ao lado aprendeu a imitar e remendava:

-Menino! Currupaco! Ê menino... Menino!

Seus dois irmãos então caçoavam dele: Vem menino lindo da mamãe, vem menino, vem... E o apelido pegou!

Quando ele aparecia, nossa! Sempre era uma surpresa! Ou estava de barro até as orelhas, ou tinha arranhões daqueles dos grandes ou uma bela bolha de martelada no dedo! Isso sem falar de um olho roxo da briga na rua por causa do jogo de bola. E aquela vez então que a perna trincou por uma coisa pesada que caíra em cima dela. Sua mãe já tinha desistido de ter cortinas na porta da cozinha que saia para o quintal, pois não se via quem vinha do outro lado e ele vivia dando encontrões nos outros por culpa de suas correrias de sempre... Um dia, num desses encontrões, sua mãe vinha com uma panela cheia de água e ele tomou aquele banho frio. Sorte a dele, já imaginou se fosse uma daquelas águas quentes para desengordurar as roupas?

Muito curioso, sempre andava atrás de sua mãe perguntando coisas:

-Mãe: por que quê eu tenho tanta sarda?

-Ora, por que sim filho!

-E o que eu esfrego nelas para elas saírem daí?

-Ah meu filho...

-Mãe: por que o bem-te-vi grita bem te vi?

-“Menino”, vá arrumar o que fazer e me deixa trabalhar, viu?

-Como que eu vou aprender se ninguém me responde nada! Resmungava baixinho.

“Menino” sempre teve uma saúde de ferro, apesar de ter pegado todas essas doenças comuns da infância que ele contava todo orgulhoso por já ter experimentado.

-Até mordido por cachorro eu já fui! Falava com cara de corajoso! Ele só não mencionava o quanto correu daquele Pequinêz antes de ser abocanhado em seu calcanhar!

Na rua ele brincava de tudo que se pode imaginar: peão, fubeca, corda, bola, carrinho, pipa, pega-pega, mãe-da-rua, esconde-esconde etc. Nas festas juninas adorava fazer fogueiras e jogar bombinhas pra todo lado. É, mas parece que não era o bastante, pois à noite ele às vezes ficava sem dormir imaginando uma nova brincadeira para fazer no dia seguinte.

Apesar de ele viver brincando, sempre era estudioso e ajudava sua mãe em algum afazer doméstico ou capinando o quintal. Por incrível que pareça ainda sobrava uns minutinhos para ele ficar acertando sementes verdes de café nas galinhas da vizinha. Quantas vezes sem ele me ver ria de suas travessuras...

Geralmente conversávamos logo cedo antes do café e antes dele dormir. Ao me perguntar as coisas eu respondia como podia. Nem sempre escutava meus conselhos, talvez pela forte opinião própria que sempre possuiu.

Quando ele tinha ali pelos seus treze anos de idade foi com toda família para a casa de praia que aos poucos era construída, afinal, a renda familiar estava melhorando com o passar dos anos. A cada quinze dias se descia para o litoral para dar continuação à obra.

Como era muito grande o calor, ele e seus irmãos antes do almoço e do jantar, cerca de meia hora, iam se refrescar no mar. Acontece que numa daquelas tardes em que havia quase nada para fazer, “Menino” perguntou para sua mãe se poderia ir sozinho à praia, pois seus irmãos não queriam ir. Ela concordou, sabia que ele era ajuizado, mas relembrou:

-Filho, cuidado, não vá fundo!

-Pode deixar mãe! E saiu todo feliz...

Eram 15H30 e o dia estava lindo. A praia deserta com todo aquele mar só para ele. Eu discretamente o segui e de longe fiquei observando-o. Ele molhou suas mãos na primeira onda como que a acariciando, olhou para a imensidão de água e céu parecendo tentar entender o tamanho de Deus e começou a brincar com as ondas, as estrelas redondas que achava na areia e a correr das beliscadas das pinças de alguns siris mal humorados.

Sem se dar conta ele passou pelo primeiro fosso que se forma nesta região de praia e ficou a brincar no seguinte mais adentro. Com a água pelo peito e distraído foi mais para dentro do mar, pois depois do fosso a água fica bem mais rasa, pelos joelhos mais ou menos. Continuou ali por mais uma hora quando resolveu vir embora por estar exausto de tanto brincar. Aproveitou uma onda forte que veio para deslizar com ela por alguns metros e correu longe até a onda parar, mas acho que quando ele foi por seus pés no chão não conseguiu, a maré havia subido e ele afundou. Senti de longe que algo estava errado, que ele afundava. Percebi que estava bem no meio dum fosso e que pela hora a maré puxava para dentro. Da distância que eu estava só poderia lhe desejar as melhores energias de força e coragem, de que tivesse tranqüilidade e determinação para sair daquela situação. Enquanto seguia para onde ele estava orava e desejava um milagre e acho que Deus me ouviu, pois “Menino” apesar do pouco que sabia nadar se empenhou em usar todas as energias que lhe restavam para sair daquele buraco e batendo seus braços e pernas bravamente e aproveitando quando o fluxo do mar ia para fora, conseguiu finalmente achar chão. Nisso eu me acerquei dele e o ajudei para que conseguisse andar até fora d’água onde se deitou fraco.

Nunca ele havia sentido a morte tão próxima. Num misto de riso e choro “Menino” parecia tentar entender o que havia acontecido e se estava mesmo vivo. Enquanto as sombras do medo se dissipavam e uma grande luz lhe envolvia, acho que por um instante ele até me viu quando balbuciou:

-Obrigado meu anjo da guarda!

Olhando aos céus, eu por minha vez também agradeci por nós dois:

-Graças a Deus!!!

sexta-feira, 3 de dezembro de 2010

Pão da vida / por O.Heinze

Para mim: simples toalha de mesa.
Para os pombos: uma festa!
Quando migalhas voaram aos céus
e depois pousaram no cimentado
do caminho entre os jardins.

Enquanto as aves disputavam
os farelos do pão da vida
minha mansidão escolhia lembranças
que acompanhavam àquele momento

e descobri que os amigos
que nunca me abandonaram
eram mesmo esses anônimos pombos
e as flores, pois sempre voltaram...