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domingo, 28 de novembro de 2021

Tempo sem cores

Tempo sem cores


...E onde está, onde está 

o tempo que se perdeu?...

Que se perdeu da paz 

dos meus olhos descansados,

no planar da ave lá tão alta, 

vivenciando a liberdade comigo,

do poder silenciar, respirar fundo 

e voar, voar, voar…

Volte bom tempo, volte…

Trazendo o perfume perdido

que adentrava a janela da casa,

talvez vindo de um sonho mágico,

das flores distraídas do campo,

que dançavam a valsa primaveril,

ao doce balançar da brisa morna.

Ah… Lazer nas horas idas,

retorne… Quero lembrar quão é bom

esquecer de si e ser criança,

poder rir até faltar o ar, doer a garganta,

ficar todo impregnado da terra, 

do aroma do mato, da fruta colhida, 

do suor e melaço da cana.

Execute novamente, natureza orquestral,

todas as melodias na mata exuberante:

do burburinho da nascente

contando a história de um rio gigantesco,

com peixes e juncos, cantos de calmaria 

torvelinho e quedas d'água;

dos coros de pássaros, insetos, folhas;

uivos de mamíferos e galhos ao vento.

Sim, houve uma época de sol benigno, atravessando copas de árvores sem donos, alcançando o chão de limo virgem,

e o riacho correndo puro entre as pedras.

Tempo… Tempo das boas coisas… 

Me explique por favor!

Onde está tu? Pois ainda estás aqui!

Que fizeram de ti? Por que lhe encobrem 

com tanta fumaça, mentira, miséria?

Lhe escondem atrás de concretos, morros

e grades? Para quê lhe queimam inteiro?

Entorpecem com drogas e utopias;

envenenam com tamanha cobiça; 

lhe afogam em rios de esgotos

e oceanos de plásticos?

Arrancam de ti as crianças, as cores,

os sorrisos e passeios, os encontros.

Para que matam a tua vida, por diversão?

Perdão, tempo das coisas do bem,

por você ainda estar em algum lugar,

mas nós, tão incrivelmente humanos, 

não termos coragem para te reencontrar.

Estamos fugindo de você, 

para além dos confins! 

Queremos ir a Marte.

Para fazer mais o quê?

Já morávamos lá.

Só eu sei

Só eu sei

por O.Heinze 


Só eu sei 

das minhas lágrimas de criança 

quando fui injustiçado, ironizado,

por àqueles que deveriam

bem cuidar, fazer aliança.


Lembro bem, na puberdade,

tanto bullying que sofri,

piadas com meus hormônios,

se eu era menina ou menino?

Seres maledicentes, demônios,

que eram e são minha gente,

deveriam me ser homônimos, 

moralmente docente.


Então, cheguei a mocidade.

Viva! Agora sou dono de mim.

Mas qual, podre liberdade!

Quase consegui o meu fim,

tentando encontrar o tal fundo,

onde a felicidade

é igual para todo mundo.


E prossegui sobrevivendo,

servindo de muro de arrimo,

segurando o peso dos outros,

a vergonha alheia de cretinos.


Prossegue o contrassenso:

sou um anjo em casa

que não faz milagres.

Paro e penso:

Por favor,Justiça,

me consagre.