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quinta-feira, 4 de julho de 2019

Eu já fui rico / por O.Heinze

Eu já fui rico.
Havia escondido sob minhas terras tonelas e mais toneladas de ouro, prata e pedras das mais preciosas.
Mas piratas me saquearam quase tudo, os malditos!
Contudo, ainda possuía milhares de hectares de florestas litorâneas, onde um tipo de árvore muito especial possuía uma seiva vermelha feito sangue. Foi muito o sangue que fizeram dessas árvores, os tais corsários sem escrúpulos.
Haviam ainda sobre todas as minhas terras milhares de gentes nativas, que foram barbarizadas e aniquiladas por esses tais seres sem alma, vindos dos infernos.
Os tais navegantes ladrões não tinham limites. Na ânsia de enriquecerem ainda mais iam cometendo todo tipo de atrocidade. Essa estirpe do mal só fez crescer por aqui.
Começaram a roubar tribos de pessoas de cor de outro grande continente para serem vendidos e escravizados nos meus territórios santos.
Na somatória de tanto sacrilégio fui enfraquecendo, adoecendo ano após ano. Estou perto de desistir de tudo, pois muita coisa já dezimaram. Desviaram e poluiram meus rios. O extenso oceano que se me encosta está morto, sujo, sem vida.
O céu já sem estrelas é aquário de poluições, onde os perfumes já não tomam o ar, pois não há perfumes, não há ar.
E o que vejo atualmente ao olhar tanto progresso são:
a devastidão e devassidão.
Muitos esqueceram de mim, de quem eu sou. Então eu me reapresento. Meu nome é Brasil.

Acredite se quiser / por O.Heinze

Estava eu aqui pensando...
O ser mulher - acho - busca um homem quase que perfeito para ter uma união estável e feliz, seja em matrimônio, ou em parceria de vida.
Pois bem... Achei sempre ser eu um bom partido, afinal, meu currículo não é de se jogar fora:
Nome: Osvaldo Heinze
Altura: 1.70m.
Peso: 63kg.
Olhos: verdes.
Cabelos: castanhos grisalhos.
Escolaridade: ensino médio completo
Profissão: marceneiro.
Hobby: pintor artístico; escultor; desenhista; violonista; cantor; compositor; escritor; fotógrafo; ambientalista; jardineiro; corredor de rua, rotina de exercicios; por frutas nas árvores para os passarinhos e água doce para os colibrís; praticante da meditação. Entendo de moda, maquiagem e etiqueta.
Religião: Deus; respeitador de todas religiões, seitas etc.
Outras funções: dono de casa em todas as tarefas de limpeza da casa; lavar roupa; lavar louça; passar; cozinhar; manutenção de carro; manutenção da oficina; manutenção da casa em: hidráulica; elétrica, um tanto de eletrônica, pintura, jardinagem; compras de mercado e feira; idas ao banco; cuidar da cachorrinha de estimação; outras coisas que agora não lembro...
Demais considerações: sou educado, cortez, romântico, carinhoso, fraterno e pontual em horários. Choro assistindo filmes tristes. Adoro presentear com flores, bichinhos de pelúcia e deixar bilhetinhos ou mensagens de carinho. Ah... Quanto àquilo??? Não, não sou de agir feito um galo. Também não sou machista, racista ou preconceituoso. Sou fiel à mulher a quem amo e adoro beijar-lhe as mãos. Não bebo, fumo, nem jogo em jogos de azar. Sou lácteo vegetariano. Amo crianças, a paz e a Natureza. Vejo na mulher uma inspiração para a vida e sou seu fã incondicional.
Acreditem... Ao saberem de mim, muitas mulheres sequer começaram um romance comigo. Muito provavelmente acharam que eu estava mentindo, ou nem era deste planeta.
Outras, que chagaram a ficar por um tempo em uma relação, não suportaram a rotina com alguém assim tão certinho feito eu.
Bem... Só posso sentir por essas mulheres, pois poderão vir a sofrer nas mãos de malandros, desocupados, exploradores, violentos, ilusionistas, traidores, enganadores e outros tantos tipos dessa estirpe. Ou não, podem encontrar alguém que satisfaça seu querer plenamente, afinal, gosto não se discute.

Parábola da Borboleta / por O.Heinze

No deserto desta existência
vive um arbusto fecundo,
de uma generosidade pura,
desinteressada e contínua...
Certa feita, uma linda borboleta
passou em seu voo tristemente,
então, a planta fez desabrochar
uma flor temporã exuberante,
rica em néctares e cores,
para fazer vida à borboleta.
Esta, atraída, pousou na flor,
fazendo uma pétala cair,
e assim acontecia em cada vez
que a borboleta descia à flor,
pois era um tanto indelicada,
inconsequente e afobada,
mas adorava sentir a doçura
do coração da flor encantada.
Um dia ela derrubou a última pétala
e o coração da flor deitou.
Sem ter mais a flor para pousar
a borboleta ficou sem chão
e tudo em redor eram cactos e areião.
Triste a borboleta voou sem caminhos,
com sede de amor, só e cansada,
morrendo sobre os seus espinhos.


Santo André, 29 e 30 de junho de 2019.