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quinta-feira, 4 de julho de 2019

Eu já fui rico / por O.Heinze

Eu já fui rico.
Havia escondido sob minhas terras tonelas e mais toneladas de ouro, prata e pedras das mais preciosas.
Mas piratas me saquearam quase tudo, os malditos!
Contudo, ainda possuía milhares de hectares de florestas litorâneas, onde um tipo de árvore muito especial possuía uma seiva vermelha feito sangue. Foi muito o sangue que fizeram dessas árvores, os tais corsários sem escrúpulos.
Haviam ainda sobre todas as minhas terras milhares de gentes nativas, que foram barbarizadas e aniquiladas por esses tais seres sem alma, vindos dos infernos.
Os tais navegantes ladrões não tinham limites. Na ânsia de enriquecerem ainda mais iam cometendo todo tipo de atrocidade. Essa estirpe do mal só fez crescer por aqui.
Começaram a roubar tribos de pessoas de cor de outro grande continente para serem vendidos e escravizados nos meus territórios santos.
Na somatória de tanto sacrilégio fui enfraquecendo, adoecendo ano após ano. Estou perto de desistir de tudo, pois muita coisa já dezimaram. Desviaram e poluiram meus rios. O extenso oceano que se me encosta está morto, sujo, sem vida.
O céu já sem estrelas é aquário de poluições, onde os perfumes já não tomam o ar, pois não há perfumes, não há ar.
E o que vejo atualmente ao olhar tanto progresso são:
a devastidão e devassidão.
Muitos esqueceram de mim, de quem eu sou. Então eu me reapresento. Meu nome é Brasil.

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