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segunda-feira, 27 de outubro de 2014

A porta / por O.Heinze


Fechei as janelas do computador
para ir a realidade da rua.
Abri a porta, mas recuei.
Fechei a porta, nela me recostei,
como que para ter garantia
de que estaria bem trancada.
Pensei: e se lá fora
houver somente paz?
Que fazer com algo que não sei lidar?
Se tudo for silêncio, calma,
descongestionamento, ar puro,
liberdade até a alma,
gente sorrindo, segurança,
rodando felizes, crianças,
numa ciranda de amor?
Me diga, oh razão, por favor,
se o mundo de repente só for
como era antigamente,
simples e consequente,
fácil de relacionar?
Que será de mim, pobre mortal,
que me tornei duro e incrédulo,
meio que surreal, alucinado,
frio, robô mal amado,
ser humano nada natural?
Talvez seja hora afinal,
de me embrenhar no mato
para reencontrar meu formato
de ser humano total.
Pois essa normalidade que vivo,
de ser da cidade um nativo,
está me fazendo sentir
que não sou mais de mim,
não sou de mais ninguém.
Tenho a impressão do fim,
que nossa raça criada aquém,
em buscando a salvação,
cultiva a própria extinção.

sexta-feira, 17 de outubro de 2014

O inferno é aqui / por O.Heinze

Então... Talvez, você não tenha notado
mas a gente deveria se amar
porque sem você eu não vivo
e sem mim você vive morrendo.
Na verdade seguimos nos matando.
Cada suspirar nosso, nos consome
corrói nossas células e planos de eternizar.
Deveríamos manter um ar melhor
mas nossa vaidade e ignorância não deixam.
Deveríamos manter o mundo natural
mas aqui nesta corrida pela vida
é cada um por si, o resto... Se dane!

Pensam: “que morra toda humanidade
desde que eu use o mundo a meu modo;
estou nem aí para meus descendentes
desde que eu goze do melhor.
Mato tudo que não deve ser morto
manipulo tudo que deveria ficar intocável
e me faço o mais poderoso.
Afinal, um dia, vou morrer duma vez
e tenho que usufruir tudo que dá
antes de ir, muito provavelmente
para a dimensão desértica das sombras”.

As pessoas se atropelam para sobreviver;
os países se massacram para sobreviver.
Triste humanidade, não percebe
não devemos chegar antes dos outros
mas sim chegarmos juntos, pois
o mundo é redondo, único
e temos que nos unir para vencermos
mas preferimos separar, enfraquecer.

Uma flor vinga sem cobrar nada
e dá toda sua vida de beleza.
Será que um dia iremos florir com graça
e poderemos morrer em paz?

quinta-feira, 9 de outubro de 2014

Minha tristeza é mais triste

Minha tristeza é mais triste
que um sonho que desiste;
que uma roseira sem rosa;
que cor de borboleta idosa
toda largada no chão,
feita assim, chuva sem razão.
Um piado perdido de filhote;
o eco do uivo de coiote.

E não é uma tristeza
de fora para comigo,
e sim, de dentro para contigo,
esse eu fraco lá fora
que poderia tudo na hora,
numa realização de coisas novas
vinda do mundo de gozos e provas.

Mas que continua aqui,
feita fruta madura caqui,
insistindo em ficar... Ficar...
Querendo ser colhida, sem deixar...