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segunda-feira, 27 de outubro de 2014

A porta / por O.Heinze


Fechei as janelas do computador
para ir a realidade da rua.
Abri a porta, mas recuei.
Fechei a porta, nela me recostei,
como que para ter garantia
de que estaria bem trancada.
Pensei: e se lá fora
houver somente paz?
Que fazer com algo que não sei lidar?
Se tudo for silêncio, calma,
descongestionamento, ar puro,
liberdade até a alma,
gente sorrindo, segurança,
rodando felizes, crianças,
numa ciranda de amor?
Me diga, oh razão, por favor,
se o mundo de repente só for
como era antigamente,
simples e consequente,
fácil de relacionar?
Que será de mim, pobre mortal,
que me tornei duro e incrédulo,
meio que surreal, alucinado,
frio, robô mal amado,
ser humano nada natural?
Talvez seja hora afinal,
de me embrenhar no mato
para reencontrar meu formato
de ser humano total.
Pois essa normalidade que vivo,
de ser da cidade um nativo,
está me fazendo sentir
que não sou mais de mim,
não sou de mais ninguém.
Tenho a impressão do fim,
que nossa raça criada aquém,
em buscando a salvação,
cultiva a própria extinção.

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