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terça-feira, 25 de março de 2008

Arte apolítica / Crônica / por O.Heinze

Jamais pensei que mencionaria este termo: arte apolítica.
Considero que a arte seja um estado materializado da alma. Sendo assim ela é divinal, pura, incapaz de misturar-se com padrões densos de idéias políticas e materialistas. A obra artística tem o propósito simples e ingênuo de fazer o seu observador ausentar-se desta dimensão “aliviando-se” daqui. Depois de alguns momentos em contato com uma forma artística o espectador volta para sua rotina, modificado em suas energias, graças a uma impressão nova na sua individualidade, um tipo de esperança que lhe sugere um outro conceito de viver...
Infelizmente na atual classificação de certas exposições de artes plásticas (para não dizer todas), o nome do artista tem mais arte e poder que sua própria obra. Isso causa um empecilho invisível, mas intransponível para autores pouco difundidos que não conseguem alcançar patamares mais altos, afinal, esses degraus sempre já estão previamente ocupados.
Que não se envergonhem os artistas humildes por não subirem um só degrau para sair do anonimato, pois a verdadeira arte, a arte sem donos e apolítica é desprovida de créditos na terra, mas é infinitamente gratificante na essência do seu artista.

sábado, 22 de março de 2008

Ah... Tua alma / por O.Heinze

Pensas que podes
esconder de mim tua alma?
Ora! Posso pressenti-la;
quando na tua alegria
esqueces do mundo a rodar...
rodar livremente a beira-mar;
e ainda posso pressenti-la
quando improvisas de repente
cantarolando contente
repertórios de teu âmago.
E quer saber?...
Já conheço tua alma a fundo
quando no teu olhar profundo
mergulho com minha inocência
saindo deste focado mundo
para tua transparência...

quinta-feira, 13 de março de 2008

Latas / por O.Heinze

Já estamos dominados
pela espécie máquina.
Somos sardinhas em lata
nas lotações centrais.
Somos carros em lata
nos congestionamentos brutais...
Somos a própria lata
disputando uma prateleira.
Somos quem vive e mata
por controle remoto.
Somos lata que acata
de uma voz da foto
a ordem do celular
da lata do outro lugar...

segunda-feira, 10 de março de 2008

Janela da manhã / por O.Heinze

Manhã de bom tempo.
Eu escancaro a janela
e um céu muito azul
mergulha na minha alma.
Um pássaro bem educado grita:
-Bem... Te vi!
O sol nem pede licença
e adentra minha casa.
Que bom! Não estou mais só.
Mas, queria ter namoradas,
feito aquele beija-flor ali.
Ah as namoradas...
O dia pode ter tudo de bom;
festa, música, confeito,
mas, sem elas, as namoradas,
o dia não é perfeito!
A borboleta / por O.Heinze

Quinta-feira de sol.
Eu aqui pelas calçadas
deste centro de bairro
e suas lojas socadas.
É um tal de vai e vem,
carros, ônibus, gente;
parece tudo inconseqüente
(mais fácil entrar num trem!)
E entre toda esta bagunça,
solta no meio do cinza,
uma borboleta pinta
o ar com quatro cores,
fazendo o mundo alegre,
surrealismo tal, parece-me febre,
ilusão da visão e sensores.
Fico pensando comigo;
teria ela um amigo?
E afinal quem está
no lugar errado?
Essa borboleta aí sozinha
ou a cidade todinha?

sábado, 8 de março de 2008

Águas passadas / por O.Heinze

Chorei duas águas
leves de alegrias
ou pesadas de mágoas.
Mas águas passadas
não movem moinhos
e nem tenho cata-ventos
nos meus caminhos.
Depois da calmaria
ou da tormenta
um novo ânimo
meu eu intenta...
Sou inventor da vida
e minha vida
é minha amiga preferida.
A dama / por O.Heinze

Noite azul, calma,
morna no corpo,na alma.
Sinto-me embalado
nos braços da ternura,
Sonhador apaixonado
enlevado nas alturas.
Tudo pela presença
de uma doce dama
que sem pedir licença
me envolve, me ama.
Como não querê-la
dentro e fora de mim?
Respira-la e tê-la
Quase uma flor de jasmim?
Oh dama-da-noite*, do ar,
por que não sais da planta
e pedes para Deus te encarnar?
E feita mulher te levantas,
para me namorar, seduzir
e fazer meu mundo florir?

*Dama-da-noite: Planta de nome científico Cestrum.
Também conhecida como: Coerana, anilão,
jasmim verde, fruta de pombo, maria preta, pimenteira.

sexta-feira, 7 de março de 2008

Cores viageiras / por O.Heinze

Até que não me admirei
quando minhas vestes coloridas
ficaram desbotadas
e depois alvíssimas
enquanto batiam na máquina
e quando abri a lavadora
e pequenos seres coloridos
saíram voando felizes
com as cores das minhas roupas
sabe-se lá para onde?!
O que estranhei mesmo
foi ter que vestir branco
sem ser médico ou homem santo
num tempo tão conturbado
com o ar enfumaçado...

quinta-feira, 6 de março de 2008

Anjo Jasmim / por O.Heinze

Ah os jasmins!
Os jasmins não são flores
são como moléculas
saídas de mim
na forma de mil amores
voando por aí, largadas,
pousando aonde fores
oh almas apaixonadas
carentes de flores...

E este sentimento que lanço inteiro
é ainda o que chegou comigo
lá do céu, de um canteiro
aonde vivo e me abrigo.

Tomai todos meus jasmins
guardai-os em vossos corações
e amai-vos, sejam afins
de amores, não de paixões...
Cavalo de ferro / por O.Heinze

Lá longe vem o trem
parecendo monstro medonho
saído de um mal sonho
das brumas mais além.

Soltando uivos, berros
faiscando do alto ao chão
parecendo um longo dragão
ou um cavalo de ferro.

Mantendo o compasso
com dezenas de patas
torcendo, rangendo latas
com seu trotar de aço.

Por dentro levando socadas
mil células diferentes
com formato de gente
um tanto inconformadas.

Eis que então ousam queimá-lo
tentando dele se desfazer
mas ele resiste sem derreter
restando então apedrejá-lo.

Quando ele cansa e pára
muita gente debanda
mas uma outra banda
para si ele separa.

E assim ele vai vivendo
engolindo pessoas
más, medianas, boas
que lhe vão mantendo...
E por falar em solidão... / por O.Heinze

Noite sem lua.
Nada é claro.
Paro!
Olho a rua.
Uma garoa flutua.
Ascendo uma vela
e pela janela
olho a rua.
A garoa continua...
Sento na poltrona.
Ninguém telefona.
Que paz máxima
esta música clássica...
Isto sim que é vida!
A isto bendigo!
Solidão seria
se eu não estivesse comigo...
Vôo dirigível / por O.Heinze

Voando alto no meu dirigível
é divertido; incrível!
O que era longe está perto:
as nuvens, o.v.n.is, teco-tecos;
a “turma” de gansos ou marrecos;
as pontas dos arranha-céus;
as renas do Papai Noel???
O que era perto ficou longe,
mas ainda dá para ver as formigas:
têm umas de gravatas, chiques;
outras parecendo ter chiliques;
várias andando de bicicletas,
skates ou pernas-de-pau.
São tantas formigas... Uau!!!
De todos tamanhos e cores;
até passando protetores...
Agora já sobrevôo o fim do oceano
e... Surpresa!!! Estou abismado...
Não é que o mundo é quadrado???
Mais que o sim; mais que o não / por O.Heinze

Quando o bem-te-vi me viu
eu já estava longe
correndo atrás dos meus sonhos...
E era tanto que eu sonhava
que meus pés nem tocavam o chão.
Então fui subindo... subindo...
Voei mais alto que o bem-te-vi;
que o falcão; que a águia;
que o vulcão; que o meteoro;
mais que o sim; que o não;
mais que a ilusão desta realidade...
Até que finalmente tive a certeza
de que o aqui não existia
que aqui era só um sonho curto
da verdadeira vida esquecida...
Borboletas são flores aladas” por / O.Heinze

Borboletas são flores aladas
que voam animadas
à procura de amores
pousam nas flores preferidas
com elas parecidas
provando seus sabores
depois deixam um recado:
“todas as flores são sem pecado,
podem voar se quiserem”
e num ato abençoado
a flor crente rompe o cabo
pois voar suas pétalas querem
e num momento de fulgor
metamorfose furta-cor
soergue-se nos ares
e as outras flores incrédulas
vão perdendo todas as pétalas
virando sementes elementares.
“Corpo e alma” por: O.Heinze.

Enquanto meu corpo externo
mostra toda sua aparência
como se estivesse numa vitrine
feito um manequim de loja
para ser olhado ou não
para ser comprado ou ganhado
mantenho minha alma guardada
como se estivesse em um cabide
dependurada dentro do armário
à espera de uma pessoa carente
que realmente dela precise
para agasalhar sua fria solidão
e quando esta pessoa
não olhar para meu manequim
mas bater palmas no endereço
do meu coração de amor
doarei minha alma sem uso
para que este alguém
possa vestir ao meu manequim
e ter-me de corpo e alma.