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sábado, 21 de julho de 2012

Espelhos e vidraças / por O.Heinze

Quando meu casamento era jovem
sentia feliz que cônjuge e filhos
olhavam para mim igual feito num espelho.
Em mim se encontravam nitidamente
e como que para se acharem me procuravam.
Ao passar dos anos essa busca diminuía
parecendo ser mais difícil se acharem em mim
e mais e mais fácil se encontrarem nelas.
Notava que a tinta prata do espelho
pouco a pouco se desfazia do vidro
até eu me tornar apenas uma vidraça
com fraco reflexo e a embaçar com o tempo.
Hoje me sinto tão pouco olhado e então lembro
dos meus pais enquanto eram meus espelhos
enquanto eram minhas vidraças embaçadas
e quando voltaram a ser meus espelhos novamente.
Um dia todos seremos vidraças
e de uma transparência muito limpa
que até poderão ver através de nós todo céu
enquanto lembranças dos espelhos
ficarão refletindo nos corações saudosos.

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