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terça-feira, 26 de outubro de 2010

Para quem gosta de crônica... Lá vai: "A mulher de branco"

A mulher de branco / por O.Heinze

Aquela fora uma noite diferente. Ouviu-se até alguém gritar: - “Tragam minha arma!” Viu-se também um jovem que desabou ao chão tamanho o drama daquela noite.
Bem... As coisas passaram-se mais ou menos assim...
Numa sexta-feira sem luar, às 20h00 pontualmente, meu tio Zezinho, meu irmão George e meu primo Ivã, viram nitidamente em destaque com a escuridão, o vulto de uma mulher toda de branco da cabeça aos pés. Usava um vestido longo ou uma camisola, mas seus pés não eram vistos tocando o chão, pois ela flutuava a um palmo do solo. Passara lentamente pela rua escura, pois os postes de luz ainda não tinham a energia ligada. Ao chegar ao mato alto mais à frente, soergueu-se e flutuou sobre o mesmo, distanciando-se até desaparecer longe...
Não foram eles as primeiras pessoas a depararem com a tal mulher de branco, era uma história bem comentada nas redondezas ali no Jardim São Fernando da cidade de Itanhaém no litoral sul paulista.
Isto que vos conto aconteceu pelos anos de 1973 e estava deixando os moradores e os veranistas receosos, haja vista que as sextas à noite evitavam sair, principalmente sozinho.
Nossa casa de praia fica situada nesse local, a dois quarteirões do mar e daí dá-se até para escutar o sussurrar das ondas durante o dia e a noite. Hoje o local já está tomado de casas, mas nesse ano referido, só existiam ali três casas, incluindo a nossa. Também havia um terreno grande cercado com arames-farpados onde as pessoas sócias iam acampar. No resto eram ruas de areia e terrenos de loteamento com mato de altura de um metro ou mais e uma infinidade de coqueiros por toda parte, onde uma grande variedade de insetos, pássaros e pequenos animais viviam livremente. Um paraíso de ar puro e mar de águas azuis e transparentes.
Nossa casa também era cercada de arame e na entrada tinha um portão de madeira de duas folhas. Tirávamos água de um poço artesiano com uma bomba manual, por não haver energia e nosso banho de água doce era frio. À noite acendíamos lampiões a gás e de querosene para iluminar os ambientes. Fora acendíamos uma fogueira grande para espantar cobras desavisadas e pernilongas mal intencionadas.
Quem estava usando nossa casa naquela semana era meu tio Zé com minha tia e seus três filhos. Meu irmão mais velho que nessa época tinha dezesseis anos, fora junto para ajudar no funcionamento da casa, pois alguns detalhes só nossa família conhecia para que tudo corresse bem.
Quando eu, meu pai, minha mãe e meu irmão mais novo chegamos a casa na semana seguinte, soubemos do ocorrido e nos intrigamos... Como nada era provado, devagar o assunto fora esfriando.
Três dias depois meu tio Edgard chegou com sua família: minha tia, meu primo, minhas duas primas, o namorado de uma delas, minha avó, meu avô, mais o papagaio. A casa lotou!!! Lembro que na hora de ir dormir ficavam camas de armar para todos os lados, mais duas poltronas e um sofá que armavam também e ainda uma cama de solteiro e outra de casal. Eu me sentia seguro dormindo debaixo da mesa da cozinha, pois era cercada por bancos de madeira e lá ninguém me pisava ao andar durante a noite. Punha no chão o colchão e nem via a noite passar.
Contávamos então com dezoito pessoas e um papagaio!
Deixamo-los cientes sobre o caso da mulher de branco e meu avô que sempre foi chegado a essas histórias, pois sempre foi contador de causos desse tipo logo quis intervir com suas rezas de proteção! Minha avó mais que depressa remendou:
-Deixa isso pra lá Chico! Nem pensa em mexer com essa coisa!
O fato é que na quarta-feira seguinte, umas 19h30min, depois de jantarmos, eu mais meu primo fomos passear a beira-mar com duas mocinhas que passavam as férias com sua família na casa da frente da nossa, do outro lado da rua.
Andamos tranqüilamente pela praia deserta olhando as estrelas que apareciam mais do que nunca naquela noite de lua nova. A escuridão da noite realçava-as lindamente, tamanha era a limpeza do céu. Então delas formavam-se nebulosas sem conta... Das ondas do mar realçava o branco da espuma e seu cântico interminável... O ar de verão morno trazia uma maresia que fazia nossos pulmões leves e a poesia da vida enchiam de emoção nossos corações adolescentes. Tudo eram paz e perfeição!
Enquanto caminhávamos, falávamos sobre vários assuntos, inclusive da tal mulher de branco que todos achavam ser uma assombração!!!
Apesar dos dezesseis anos de meu primo e os quatorze meus, queríamos parecer já valentes e meu primo mostrando-se o tal disse de peito cheio:
-Ah se essa mulher de branco aparece... Pomo-la para correr! Não é Osvaldo?
Eu para não ficar para trás e mostrar-me um bom partido para as garotas, confirmei:
-Claro! Pomo-la para correr de tal modo que nunca mais aparecerá por estas bandas! E íamos de peito estufado ao lado das meninas que riam de nossas prepotência e audácia.
Acredito que já eram ali pelas 20h30min, quando entramos na nossa rua voltando para nossas casas. Na calma da noite só ouvia-se o barulho do mar e a orquestra de grilos no mato. A uns vinte metros dos portões que dão entrada para os nossos terrenos, só se via a luz tênue dos lampiões que atravessava as arestas das venezianas das casas e a fraca fogueira que ainda teimava em queimar. Estranhamente não havia ninguém fora das casas, tudo estava deserto.
Ao lado do terreno da casa das meninas havia uma pilha alta de blocos de construção, pois eles estavam ampliando a casa e foi justamente daí de trás que surgiu não uma, mas duas mulheres de branco andando lentamente para nossa direção. Um frio fulminante cortou minha alma e como consegui ainda correr dez metros no sentido delas para poder entrar no terreno de casa, não sei! Lembro que perdi os chinelos e que minhas pernas não corriam, mas “voavam” e gelavam ao mesmo tempo. As duas mocinhas que nos acompanhavam paralisaram no lugar abraçadas uma a outra chorando convulsivamente. Meu primo fugiu das tais mulheres seguindo no sentido da praia, mas depois de uns dez metros suas pernas amoleceram e ele gritou alto: -Mãããnheeee!!! Desabando ao chão meio desfalecido feito um saco de batatas.
Atravessei o terreno de casa como um raio e cheguei à varanda onde escondidos atrás da parede estavam minha tia Vilma e meu tio Zezinho rindo de morrer e quanto mais os chamava à atenção, avisando das mulheres de branco lá fora, mais eles se dobravam de rir...
Entrei em casa e o restante do pessoal estava alheio a tudo. Percebi que entre eles faltava minha prima Elizabete e meu irmão mais velho George. Aí a ficha caiu!!! Lembrei que a mulher de branco, pelo que se contava, só aparecia às sextas-feiras às 20H00 em ponto e estávamos numa quarta feira às 20h35min. Para tirar qualquer dúvida minha, ao olhar para fora de casa vi chegando esse irmão e essa prima descobrindo-se das colchas brancas que tanto tinham nos aterrorizado!
Saldo da brincadeira de mau gosto: Eu com minha coragem arrasada e meu coração descompassado; as meninas em estado de choque; o pai delas gritando: -“Tragam minha arma!” Pois pensava que a mulher de branco ainda estivesse por ali; meu primo arrasado no seu orgulho, de joelhos ainda ao chão e meu tio e minha tia, articuladores da façanha, todinhos urinados nas calças de tanto rir.
Até hoje não se sabe se as aparições da mulher de branco
eram verdadeiras, mas esta história da minha família é verídica e ao ser lembrada faz todos rirem a beça.

Um comentário:

POESIA CÁ E LÁ disse...

Bom dia!!!

Visitando!!
Aprendendo!!
Absorvendo!

Beijos ternurentos

Clau Assi