A porteira
por O.Heinze
Quando eu era criança de dez anos
e íamos ao sítio do nosso parente
eu gostava de andar pelo caminho
que levava até a porteira da frente.
Era interessante a sensação
que eu sentia naquela porteira:
da casa até ela, um caminho sabido;
de ela para fora, a estrada e poeira.
Sem a porteira o caminho seria estrada
e a estrada seria tão só um caminho.
Mas aquelas tábuas juntadas a prego
surradas pelas chuvas e sol abrasador
dividia o que era caminho ou estrada
e o que eu continha antes e após ela:
no caminho sentia amizade e proteção;
na estrada sentia um quê de solidão.
Quando me sentava sobre a porteira
conseguia ver a vida tão lá longe…
E antevia que aquele caminho morria
pois a estrada, logo, dali me roubaria.
Hoje continuo a minha caminhada:
da casa à porteira sou lembrança;
da porteira para a infinita estrada
sou ainda a mesma velha criança.
Nenhum comentário:
Postar um comentário