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quarta-feira, 28 de agosto de 2024

Abraçando os joelhos
por O.Heinze 

Ninguém rouba o meu chorar 
são lágrimas candentes pelas
dores e os prazeres de amar
que a emoção sabe fazê-las
nascer do céu do meu olhar.
São minhas benditas estrelas
a brilhar, brilhar, até sossegar…
E quem mais poderá tê-las?
Não são coisas de se comprar!
Ninguém jamais irá sabê-las!
Somente eu as sei criar,
e o momento de concedê-las
fazendo minh’alma desafogar.

Se eu choro
é para não ver alguém chorar
pois, não ignoro
a carência de se fazer sonhar. 
Então, eu moro
sozinho em meu soluçar.
Já não imploro
o amor que não podem dar.

Santo André, SP - Brasil, 27/8/2024.

domingo, 25 de agosto de 2024

Há tempo de florir. Há tempo de morrer.

por O.Heinze


Já cultivei em minha vida

algumas das flores mais caras,

que sequer imaginaria conviver.

Elas chegaram, cada qual

em seu tempo, num repente

encantador e único.

Todas em sua singular perfeição, 

revestidas da forma humana, mas, 

sem, contudo, perder a essência 

delicada, doce e sensível,

além de um aroma único,

ora tímido, ora exuberante.

Criaram mil borboletas 

em meu estômago, coração,

caminhos e sonhos. 

Viveram em minhas terras

embelezando as paisagens,

colorindo meu coração,

enfeitando minha mente.

Muita vida fiz com elas,

e também lágrimas abundantes, 

que regaram nossas esperanças.

Ser um bom cultivador 

é raridade neste mundo duro. 

É preciso amar infinitamente

cada flor, pois quem lida com elas 

sabe que um dia precisarão partir. 

E assim aconteceu, se foram,

muitas deixaram este mundo,

outras tantas se transferiram,

se replantaram noutros campos,

sendo cuidadas por outras mãos. 

Mas eu as compreendo,

pois assim deve ser a vida,

ademais, eu ainda levo

cada uma delas em mim,

com ternura e amor.

Apesar da distância, estão perto,

em meu corpo e minha alma,

com toda gratidão e saudade.

Vez e outra a brisa traz

a fragrância de cada uma delas,

e eu entendo que estão lembrando

do tempo em que vivíamos juntos

e fazíamos florir um mesmo jardim.

A vida é feita através das flores,

que são geradas por sementes

dos vegetais e todos os seres,

inclusive por flores-gentes.


Santo André SP Brasil, 22/8/2024.


sábado, 10 de agosto de 2024

Crônica de uma criança. 

por O.Heinze 


Em 1970 eu tinha onze anos de idade quando fui campeão regional de judô do Grande ABC Paulista, que corresponde a sete cidades a sudeste da região metropolitana de São Paulo.  Consequentemente teria que disputar o Campeonato Paulista na capital. 

No dia do evento minha mãe não pôde me acompanhar, pois tinha que cuidar de um outro filho, cinco anos mais novo que eu. Meu pai estaria trabalhando, então, meu professor (sensei) me levaria. Peguei um ônibus circular até a academia, mas meu professor não estava lá. 

Com atraso, chegou um estranho em sua perua Kombi antiga, dizendo ser ele quem me conduziria ao local. Fiquei inseguro, mas o acompanhei.

No meio do longo trajeto o veículo quebrou e depois de uma hora foi consertado.

Quando chegamos ao evento, todos atletas já estavam perfilados e o portão do alambrado trancado. Saltei a grade para me juntar aos atletas e fui severamente repreendido pela organização, disseram-me que eu não poderia mais participar da disputa. Depois de muita explicação da minha parte, resolveram deixar eu lutar. 

Eu sentia uma enxaqueca alucinante, não sei se por não ter almoçado, pelo nervosismo do atraso, ou o desamparo dos adultos, pois nem o senhor que me havia levado, eu sabia onde encontrar.

Uns parentes vieram ver minha luta, mas numa parte distante nas arquibancadas, que eu não podia ir. 

Ao esperar pela minha vez, sentou ao meu lado um homem, dizendo que seu filho iria me enfrentar, e me apontou um judoca faixa marrom, maior e mais pesado do que eu, falou ainda, com sarcasmo, que eu jamais o venceria, que me pagaria o almoço caso isso acontecesse.

Minha graduação era três vezes inferior ao do filho dele, mas isso não me preocupava, nem nada que ele tagarelava, pois o que me matava era a terrível dor de cabeça.

Eu bem que tentei lutar quando chegou a hora, mas por conta da dor, realmente não conseguia impor esforço na luta, que acabei perdendo. Em seguida, ainda fui zombado pelo pai do vencedor.

Sentia-me constrangido, sozinho e amargurado naquele momento. Talvez meus parentes tenham se decepcionado comigo, pois logo que finalizou o combate, levantaram e partiram. 

Mas para um menino de onze anos de idade, acho que eu até que suportei bem esse traumático dia. Perdi a luta, mas me fortaleci em minha individualidade espiritual e pessoal. Aprendi que na vida, a única pessoa com quem eu poderia contar, era eu.

Hoje, depois de décadas, lembrei desse fato e meus olhos marejaram. Aquela sensação desse dia ainda corre dentro de mim.

Nunca devemos julgar e até condenar uma pessoa, apenas pela aparência, pois somente ela sabe dos dramas e glórias que se assomam nela. Das virtudes e defeitos que a conduzem. 

Que principalmente as crianças e adolescentes possam ser sempre amparadas, respeitadas, fortalecidas e amadas em todos os ambientes.

Que possamos tentar pressentir a condição alheia, antes de tirarmos conclusões precipitadas.

Esporte não é guerra, mas um caminho para a paz.


Santo André SP Brasil 

31/7/2024.