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quarta-feira, 11 de junho de 2025

O menino e Deus

por O.Heinze 


Um menino tinha dele na vida,

uma única pipa e uma lata batida,

onde enrolava linhas que achava

perdidas pelas ruas da vila.

Isso era tudo que lhe entretia,

pois aí vivia toda a sua alegria. 

Amava o céu azul e a brisa suave,

que era o seu mundo de brincar,

quando sua pipa erguia nos ares

e ele sentia verdadeiramente amar.

Entendia a religião bem assim:

a linha de pipas era a sua fé 

e sua companheira pipa era Deus.

Essa ligação tão tênue de crença 

entre ele e Deus, o encorajava, 

e fazia perceber a sutileza do ser.

Às vezes o vento estava forte

e Deus o puxava mais para Si;

mas havia dias de total calmaria,

em que Deus descia ao seu lado,

talvez, quisesse sentir mais o chão

e ficava pousado, calado, quieto, 

sentindo mais o corpo que a alma,

sendo mais humano que Criador,

por sentir que a fé do menino

estava debilitada, meio esquecida.

Em uma tarde calma, de repente,

o tempo mudou e o menino estava

com toda a sua fé ligada a Deus.

Um vento prenunciador do temporal

puxou a pipa com grande pressão,

fazendo a linha não suportar,

e o menino sentiu sua fé romper, 

e Deus se elevar para as nuvens.

Já dentro da casa, em total silêncio, 

ele ouvia os trovões e a chuva forte. 

Apesar da tristeza pelo acontecido,

entendeu que precisava prosseguir,

mesmo Deus estando longe, no céu. 

Pela manhã Deus resplandeceu,

e o menino pressentiu Deus no sol.  

Mesmo sem a linha e a pipa, 

havia Deus em sua inexplicável fé,

ao ponto de se sentir nas nuvens,

ainda que fosse um dia sem vento.


Santo André - SP - Brasil.

09 de junho de 2025.

Foto: Osvaldo Heinze com 9 anos de idade

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