O menino e Deus
por O.Heinze
Um menino tinha dele na vida,
uma única pipa e uma lata batida,
onde enrolava linhas que achava
perdidas pelas ruas da vila.
Isso era tudo que lhe entretia,
pois aí vivia toda a sua alegria.
Amava o céu azul e a brisa suave,
que era o seu mundo de brincar,
quando sua pipa erguia nos ares
e ele sentia verdadeiramente amar.
Entendia a religião bem assim:
a linha de pipas era a sua fé
e sua companheira pipa era Deus.
Essa ligação tão tênue de crença
entre ele e Deus, o encorajava,
e fazia perceber a sutileza do ser.
Às vezes o vento estava forte
e Deus o puxava mais para Si;
mas havia dias de total calmaria,
em que Deus descia ao seu lado,
talvez, quisesse sentir mais o chão
e ficava pousado, calado, quieto,
sentindo mais o corpo que a alma,
sendo mais humano que Criador,
por sentir que a fé do menino
estava debilitada, meio esquecida.
Em uma tarde calma, de repente,
o tempo mudou e o menino estava
com toda a sua fé ligada a Deus.
Um vento prenunciador do temporal
puxou a pipa com grande pressão,
fazendo a linha não suportar,
e o menino sentiu sua fé romper,
e Deus se elevar para as nuvens.
Já dentro da casa, em total silêncio,
ele ouvia os trovões e a chuva forte.
Apesar da tristeza pelo acontecido,
entendeu que precisava prosseguir,
mesmo Deus estando longe, no céu.
Pela manhã Deus resplandeceu,
e o menino pressentiu Deus no sol.
Mesmo sem a linha e a pipa,
havia Deus em sua inexplicável fé,
ao ponto de se sentir nas nuvens,
ainda que fosse um dia sem vento.
Santo André - SP - Brasil.
09 de junho de 2025.
Foto: Osvaldo Heinze com 9 anos de idade
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