Um Estranho no Espelho
por O.Heinze
□E por onde tu andavas
que eu nunca antes lhe vi?!
○Se não vistes a mim antes,
talvez seja porque há muita gente
por aí afora, roubando-te de ti.
□Sim, mas tu me és familiar,
apesar de jamais conhecê-lo.
○Verdade, nunca me vistes aqui,
mas há outra localidade, oculta,
para ser enxergada e vivenciada.
□E é próxima de onde estamos?
○Sim, tão próxima que não notastes.
Mas de lá eu sempre sei sobre ti.
Presenciei cada momento teu:
sorrisos aprisionados,
lágrimas reprimidas,
gestos disfarçados,
beijos mal colados,
amigos perdidos,
abraços mal dados,
caridade nula,
amor que macula,
palavras mentirosas,
olhares desviados,
sonhos não sonhados.
□Mas quem és tu, afinal?
○Sou teu eu esquecido, judiado,
colocado sempre de lado.
Sou o conselheiro da verdade,
mas geralmente trocado
por bugigangas, coisas fora de ti,
que não tem valor, falsidades,
que te iludem pela eternidade
dos tempos em que te vais aqui.
□Explica-me mais claramente!
○Pois sim! Tu estás inconsciente!
Não te enxergas por dentro,
nem te ouves, nem te calas,
melhor se fizestes as malas
e partistes para os confins!
Não te sirvo mais para um fim.
Não usas do amor que lhe oferto;
dos conselhos santos que sopro;
das boas ações que sugiro;
das alegrias que lhe envolvo;
dos sonhos que engendro;
dos remorsos que lhe acuso;
das compaixões que lhe induzo;
da consciência que lhe chamo…
Anulastes a mim,
que sou tua personalidade.
□Eu sou bom! Sei que sou!
○Gritaste isso por ora,
pois te imaginas bom
nisso que aos poucos te devora
e consome todo o teu dom.
Nesse mundo eu não estou “on”
e por isso não me reconheces.
Toda veracidade está agora
neste eu que tu entorpeces,
pois insistes só no teu eu de fora.
Santo André SP Brasil.
29 de janeiro de 2025.
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