Vivo uma urgência em me completar
de algo que ainda não sei explicar.
Busquei por coisas maravilhosas
na ânsia de preencher esta falta penosa,
mas ao dar-lhes as costas, ficaram para trás,
pois do mundo não se leva nada, nem traz.
Sigo com esta sensação estranha, tipo, respirar uma vida inteira e não ter reserva de ar;
cultivar flores e mais flores que avivam e após seu glamour se desfazem num piscar.
Nada completa esta lacuna faminta
de me fazer sentir a satisfação plena.
E pensar que sou feito da matéria
de estrelas desintegradas, pena,
não deveria me sentir disperso
pois sou parte do universo,
mas a incógnita desta busca prossegue,
esta urgência em me completar
de algo que ainda não sei explicar.
Já tive amor tão grande no coração,
paixão em erupção, ardente igual a vulcão,
que derreteram em si mesmas,
esfriaram e se tornaram rochas frias e crespas.
Tive a felicidade intensa que fugiu
numa enxurrada de lágrimas amargas.
Quase fui engolido por mar e rio
e a morte pareceu uma pesada carga,
mas não preencheu o meu nada.
Conheci igrejas suntuosas e imponentes,
de onde saí com menos de mim do que entrei.
Compreendo que as coisas do mundo passam, orei,
porque absolutamente tudo um dia acaba
e as coisas do espírito são intangíveis,
podem e não podem ser críveis.
Incrível é a urgência em me completar
de algo que ainda não sei explicar,
pois posso dar a volta ao mundo
e tudo que trago na mente não me é oriundo.
O dinheiro não compra tudo!
Gastei mundos e fundos
e nada completou o oco mudo
da parte que me falta, nem os Tundos.*
Sou mais um ruminador pastando no campo da ignorância humana;
voador sem asas, planando em minha fantasia insana;
submergido numa represa de conjecturas;
Enterrado em minhas raízes por esta procura,
que somente eu poderei um dia desvendar
e finalmente não sentir em mim o faltar
de algo que ainda não sei explicar.
*Tundos: Chefe de sacerdotes gentis, na África.
Espécie de doutor, em escolas do Japão.
Santo André, 29/12/2021.
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