Mulher de cor
por O.Heinze
Sou mulher de cor.
Me chamam de tanto nome:
Preta.
Ébano.
Negra,
doce bananada.
Mulata.
Jambo,
calda de jabuticaba.
Sarará.
Albina,
açúcar queimada.
Carrego um peso danado,
levo duas de mim,
essa que eu sei quem sou
e a outra que me dizem ser.
Cicatrizes de chibatadas
queimando minha pele
por uns seiscentos anos,
desde que me raptaram.
Minha cor é bonita,
mas dói na vista de uns.
Meu sangue é igual ao de todos
e já sangrou na pele branca,
fez muito filho mestiço.
Me achavam bicho,
mas vim da realeza negra!
Sou cor de mulher!
Meu suor e transparente;
minha lágrima inocente;
meu beijo é desejado;
meu corpo é cobiçado;
meu cheiro enfeitiça;
meu mel escorre e atiça,
mas querem se aproveitar.
Fui muito ama de leite
e hoje sou doutora,
ou o que eu quiser,
pois sou minha autora.
Acontece que eu sou boa,
mas posso me tornar leoa,
se quiserem me forçar,
tocar na minha prole,
ou me enclausurar,
sou forte, não sou mole,
não esqueço o que me fazem.
Sou mulher empoderada,
de grande coragem.
Trabalho de sol a sol.
Posso ser enricada,
ou simples empregada,
mas não temo nada,
entendeu? Nada! Nada!
Santo André, 26/06/2021.
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